terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

O que está acontecendo no mundo?
Geraldo Trindade
O que está acontecendo no mundo? Essa me pergunta me veio quando me deparei com mais uma onda de protestos na Líbia, depois de ter passado pela Tunísia e Egito. Além desses países os protestos se espalharam pela Argélia, Iêmen e Jordânia.  O que anseia os homens e mulheres da região árabe? Por que neste momento histórico eles passaram a protestar e exigir mudanças?
            Digo que não esperava atitudes tão corajosas de povos que nós, ocidentais, tínhamos como dóceis a governos ditadoriais.
            Mas, acredito também que essa revolução não foi parida prematuramente. Vivem há anos marcados pela pobreza, desemprego, perseguições...
            As pessoas querem e buscam formas de viver cada vez melhor: querem ter seus trabalhos remunerados devidamente, querem poder sonhar com o futuro de seus filhos, querem sentir parte de uma comunidade que os respeitem e que busquem fazer o melhor para suas vidas. Porém, o que se vê nesses países são governos que sugam todas as forças de seu povo e não lhes dá nenhum retorno. São governos opressores, religiosos opressores, polícia opressora, que buscam a satisfação de seus próprios interesses enquanto a pobreza, a fome, o desemprego só fazem crescer.
            Os cidadãos, que nós, ocidentais, nunca pensaríamos que contrariariam a ordem vigente, estão dizendo um basta aos ditadores de óculos pretos, cabelos pintados, que exibem seus ouros e são cheios de extravagância. O povo diz um não forte não por causa da política internacional, mas puramente por seus “representantes” não lhes assegurar aquilo que seus direitos. Ainda mais, que a grande massa que acorre às ruas com coragem serem jovens que não pertencem e nem defendem as tradições nacionalistas, de um estado árabe e teocrático. Essa geração é marcada pela sede de liberdade, de espírito e informação. Eles estão conectados  às grande redes de relacionamento, o que muito tem favorecido a disseminação das idéias e a organização dos eventos.
            O que mais espanta é o Ocidente, pregoeiro da liberdade e da democracia, dizer que é preciso esperar um pouco, que é necessário calma e prudência. Cadê os países que encabeçaram e defenderam intervenções militares no Iraque, Afeganistão sob o pretexto de defendê-los da dominação déspota de ditadores? O que transparece é que liberdade e democracia devem ser oferecidos a conta gotas, desde que não atrapalhem os planos dos poderosos. Como podem refrear as aspirações mais puras de democracia de povos dominados pela exploração e pela falta de senso de seus governantes?
            Pena que não nós, simples cidadãos sensibilizados com os acontecimentos da região, não possamos oferecer a democracia sonhada e ela seja fruto que custa muito sangue, suor e lágrimas.
            No entanto, fica-nos uma lição e uma certeza: a de que não podemos ficar estagnados ante às necessidades dos outros. Esses governantes passam agora pó apuros, mas porque passaram anos cuidando e governando só a partir de seus próprios interesses enquanto seus compatriotas ficaram relegados à miséria e ao descaso. Agora a história trata de cobrar seu preço e sua conta.
           
           

domingo, 20 de fevereiro de 2011

“A criação geme em dores de parto” (Rm 8,22)

Adriano Cézar de Oliveira,
Licenciando em Filosofia pelo Instituto Santo Tomás de Aquino (ISTA)
em Belo Horizonte, Minas Gerais.

Estamos vivendo num mundo voltado quase que totalmente aos valores que passam, mergulhados numa história humana, com suas belezas, mas limitada e passageira. Com isso, sentimos fortemente a necessidade de Profetas Verdadeiros que nos anunciem os valores permanentes da vida, mesmo que eles pareçam difíceis de serem entendidos e vividos.
Por essa razão, mais uma vez a Igreja nos propõe refletir sobre esse tema, tão antigo e tão novo, que é “Fraternidade e Vida no Planeta”, com lema “A criação geme em dores de parto”.
Faz-se de singular importância considerarmos o mundo como nossa própria casa, onde nos aconchegamos, com  todos os outros humanos e as coisas, criaturas de Deus como nós. É em nós, nos outros e nas coisas que fazemos encontro com Deus - “razão principal de sua dignidade e vocação própria de todo ser humano” (São João da Cruz) - e, portanto, a criação é o nosso espaço de ser de Deus.
O refrão do hino da Campanha da Fraternidade 2011, baseado em Gêneses I, nos diz: “Olha, meu povo, este planeta terra: Das criaturas todas, a mais linda!, Eu plasmei com todo amor materno, Para ser berço de aconchego e vida” (Gn 1).
A criação nada mais é que uma prova concreta do amor de Deus por nós. Ele a fez com amor materno para que fosse berço e aconchego de vida. Mas então, por que existe destruição (o mal), do gênero humano, quanto das obras de Deus?
Para responder a essa pergunta, tomemos Santo Agostinho. Somos criados por um Deus que é Sumo Bem e n’Ele não existe o mal. Mas, ainda, de onde vem à destruição (o mal)?
Podemos por essa prerrogativa, afirmar que o mal e a destruição advêm da natureza humana, que tem em si presente o bem, vindo do Criador, e o mal, fruto da liberdade. Mas como ainda nos diz, Santo Agostinho “o problema em si não é fazer o mal, mas gostar de fazer o mal”.
Por isso, libertemo-nos do mal e refaçamos nossas vidas no amor e na justiça. Partilhando o que temos. “Tendes a Eucaristia, o que quereis mais?” (São Pedro Julião Eymard).
Nossa mãe terra é criatura viva, também respira, se alimenta e sofre. É de respeito que ela mais precisa; sem nosso cuidado, ela agoniza e morre. Mais profundamente, precisamos, ver nesta terra, nossos irmãos. São tantos que a fome mata e a miséria humilha.
Rezando esta campanha precisamos, criar uma nova aurora, fazer com que o sol da liberdade surja no coração das pessoas e indicar: “Com Maria, ide depressa para uma nova terra” (Maristas). Sonhar um mundo mais humano, sem tanto lucro empobrecido e mais partilha, de pão e de vida!
Para isso, podemos rezar com toda a Igreja, que unida em sinal profético, entoa com júbilo, louvores e preces ao Deus Altíssimo com a oração da Campanha da Fraternidade deste ano: “Senhor Deus, nosso Pai e Criador. A beleza do universo revela a vossa grandeza, A sabedoria e o amor com que fizestes todas as coisas, E o eterno amor que tendes por todos nós./ Pecadores que somos, não respeitamos a vossa obra, E o que era para ser garantia da vida está se tornando ameaça. A beleza está sendo mudada em devastação, E a morte mostra a sua presença no nosso planeta./ Que nesta quaresma nos convertamos E vejamos que a criação geme em dores de parto, Para que possa renascer segundo o vosso plano de amor, Por meio da nossa mudança de mentalidade e de atitudes./ E, assim, como Maria, que meditava a vossa Palavra e a fazia vida, Também nós, movidos pelos princípios do Evangelho, Possamos celebrar na Páscoa do vosso Filho, nosso Senhor, ressurgimento do vosso projeto para todo o mundo. Amém”.
Devemos ser fraternos com a vida no planeta e ajudar a criação a não mais gemer “em dores de parto”, pois devemos renascer com ela no amor, pelo amor e para o amor. Pois “no fim da vida seremos julgados pelo amor que um dia plantamos” (São João da Cruz).
Para finalizar, cito um dominicano medieval, Mestre Eckhart (1260-1328), que apesar de ter vivido e postulado sua teoria na Idade Média, ela se apresenta totalmente atual, nessa esfera de busca da totalidade.
Num poema indiano que ilustra do universo eckartiano, podemos refletir a importância da consciência da totalidade da criação, considerando-a totalidade de Deus:

“Deus dorme na pedra
Respira na planta
Sonha no animal
E desperta no homem”
(Poema Indiano)

Com ele, somos convidados a agradecer, louvar e não nos afastarmos do Deus-Amor-Criador, que nos recria e nos refaz a cada amanhecer. Para isso, ajude-nos Deus.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

A capacidade iluminadora do cristianismo
Geraldo Trindade

            O que se percebe nos dias de hoje é uma proliferação do sagrado: “guerra santa”, horóscopo, simpatias, garantias certeiras de milagres, sucesso e bonança... Acompanhando tudo isso tem cartomantes, óleo santo, porta da prosperidade, seleção dos escolhidos e muitos milagres difundidos pelos meios de comunicação de massa... A superstição parece estar inscrita no código genético humano.
            O ponto é que as pessoas se encontram perdidas, existe um vazio frente o desejo natural de felicidade. Ora, no momento tenta-se preencher este vazio pela ciência, porém ela não o completa. Em meio às trevas da superstição, a Igreja Católica é que deve invocar luzes para dissipá-las.
            O anúncio da Boa Nova cristã deve, mais do que nunca, atravessar o véu do ceticismo presente no mundo. Vivemos em uma sociedade cristã, respirando ar cristão, consumindo cultura cristã; porém dolorosamente pode-se afirmar como Péguy: “Somos os primeiros, depois de Jesus, sem Jesus.” Para que isso mude é preciso que o homem hodierno experimente o “encontro com pessoas para as quais o fato de Cristo é realidade tão presente que sua vida é mudada.” (Luigi Giussiani)
            O cristianismo não é uma história, não é uma idéia, uma abstração; mas é um fato fundado em Jesus Cristo. Com Ele pode-se ver  um novo mundo erguer-se, a sociedade constituir-se. As palavras de João Paulo II são esclarecedoras: “antes de ser um conjunto de doutrinas, uma regra para a salavação, é o ‘acontecimento’ de um encontro.”
            De fato, o cristianismo não se contentou em ser mais uma religião, mas quis e conseguiu ser a vitória da inteligência sobre tudo o que existia. Essa certeza advém de Jesus Cristo, que redesperta no homem o desejo da verdade, que vence todos os medos, afirma-se como vencedor de tudo; pois onde se é fraco que se é vencedor. Tudo, porque o Deus cristão entrou na história e veio ao encontro do homem. Assim, o homem pode encontrá-Lo.
            Nada, nenhuma superstição é capaz de suplantar a verdade evangélica manifestada em Cristo. O conteúdo da experiência cristã revela que “o amor e a razão coincidem, pois são verdadeiros pilares fundamentais do real.” (Ratzinger)
            Em suma, não se segue a Cristo porque se
entendeu tudo, mas porque não se entendeu nada a não ser a promessa salvífica provi
nda dEle.



A eterna busca da felicidade pelo homem

Geraldo Trindade

Quando se olha para o mundo atual, vê-se a tristeza e o desânimo estampados nos rostos das pessoas. Vê-se homens e mulheres que batalham arduamente para alcançar metas materiais e esquecem-se da meta essencial da vida: a felicidade. Lutam para conseguir sua satisfação financeira, gastam suas forças, suas energias e quando conseguem seu objetivo já não dispõem de vitalidade para saborear suas conquistas.
Alvoroçados, correm para ter o melhor carro, a melhor casa, o melhor celular… Deixam de conjugar verbos, como cooperar e solidarizar, para, ao contrário, conjugarem os verbos competir e individualizar. Frente à essa realidade, ninguém deve impressionar-se com o exorbitante número de famílias desagregadas, com o excesso do consumo de drogas e com a prostituição.
As pessoas desperdiçam suas vidas correndo desesperadamente atrás de miragens. Metaforicamente, em pleno deserto buscam a felicidade nos falsos oásis. Embora saibam que o seu poder econômico, político ou seu status são passageiros, a maioria se ilude construindo castelos de areia, na ânsia de acumular. Esquecem-se de que o vento pode varrer todo o deserto e destruir seu frágil castelo.
Contraditória capacidade do homem: pensar! Sabem que pouco valor tem a quantidade, mas insistem. Correm atrás do maior número de conquistas, como viagens e festas, mas perdem a oportunidade de escutar o que fala seus corações. Buscam no outro a segurança para si e, no exterior, o amor, a tranqüilidade e a paz. Parece-lhes o mais fácil, o mais cômodo, porém, esquecem-se de que só encontrarão tudo isso dentro de si mesmos.
Pode-se dizer que já ultrapassamos a era da modernidade e estamos ingressando no que se pode chamar de “era da comparação”. Compara-se o dinheiro, o status, o reconhecimento, a fama, a beleza… As pessoas aderem cada vez mais aos valores que a sociedade impõe, sem ao menos saber se tais valores podem realizá-las.
A felicidade, nos dias atuais, é colocada como meta e enquanto procura-se alcançá-la perdem-se os verdadeiros momentos felizes. Na verdade, a felicidade não é nada mais que um filme que reúne os diversos momentos da vida. Essa é a dinamicidade da existência humana: tanto alegria, quanto dor.


sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Por que se ama?
Geraldo Trindade

            O que é capaz de eliminar a obscuridade, o medo, a dúvida, o rancor, a violência do rosto das pessoas?
            A certeza de que se é amado.
            Para se chegar a certeza de que se é amado não basta uma idéia, pois ela somente serve para criar idéias fixas, ou seja, fanatismos. É necessário o eu, que sozinho não vale nada. Existe o eu, que precisa do outro, que também sozinho não se basta.
            O outro, que me quer bem, o que me transmite? O sentido da vida. O outro que me ama, quer a mim. Giancarlo Cesana refletindo sobre a realidade humana diz que “somos destinados a amar: isto supera todos os pontos de vista, ultrapassa todos os limites de um dever.”
            Ama-se porque é o nosso destino, não porque devemos amar. Não se ama a si mesmo, mas ama-se um outro, diferente de mim; que necessita de amor e que é pluri-possibilidades de amar. A este outro que interfere na minha vida por meio do amor é necessário uma resposta. Responder, segundo Cesana, é dizer que a vida não é mais como se imagina, mas determinada pela presença à qual responde.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011



Breves reflexões sobre a PAZ
Geraldo Trindade

                No mundo sempre esteve presente os conflitos, as guerras, as disputas... As divisões e disputas são presentes tanto no âmbito global quanto no das relações. É como se essa ignominiosa doença estivesse presente a todo momento e fosse impossível eliminá-la.
                As palavras de PAZ se dirigem a todos, mas especialmente àqueles nos quais prevalecem o sendo de paz ao Ives da guerra. Porém, nem todos os corações são capazes de realizá-la.
                Porque A PAZ É UM DOM. ela brota do coração, do íntimo, ela é improduzível pelas próprias forças.  No entanto, ela é desejada como libertação e às vezes como sonho quase inatingível. Ela provém e é sentida por meio dos corações e das ações dos homens.
                Mas, de onde vem a guerra?
                Ora, ela é ausência da paz. Quando a PAZ passa a inexistir, levando a humanidade à conflitos?
                A guerra inicia quando exatamente os homens não mais reconhecem Deus como o protagonista e construtor da história; e colocam como critério e horizonte para julgar os relacionamentos e os problemas outras coisas e valores; tais como: poder, dinheiro, ideologias, comodidade ou utilidade.
                A PAZ começa no reconhecimento que gera a esperança indomável. Isso não é possível aos homens covardes, mas aos homens que diuturnamente lutam pela vida, renovados pela esperança,como consciência e responsabilidade, agem pela paz no mundo e nos relacionamentos.

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Jean-Paul Sartre

A autogênese do homem pela liberdade: um passeio em Sartre


Geraldo Trindade

Jean-Paul Sartre é um dos filósofos mais importantes da corrente existencialista. Pode-se ver em seu pensamento a angústia do homem moderno, em especial, daquele homem pós-guerra. Ele se atreveu a pensar essa realidade existencial que corresponde à visão de um homem sem fé, sem família, sem amigos e sem finalidade na vida.
Partir-se-á sob a temática da liberdade perpassando o pensamento sartreano e deter-se-á também às visões e percepções deste tema na contemporaneidade.
Sartre analisa de primeiro a consciência, que não é reflexiva, mas que acompanha todo o conhecimento, por exemplo, quando se conta balas, tem-se consciência de contá-las, isto é, o seu conteúdo é o objeto.
A concepção existencialista de homem para Sartre está intimamente ligada a este fundamento. Primeiramente, o homem existe e com o passar do tempo se descobre, passando a se perceber como criador de sua própria história e somente mais tarde é que se define. Passa, então, a ter consciência de si, além de tornar-se um aglomerado de projetos, cuja soma é o homem.
O homem concebido por Sartre tem uma dignidade imensa e por isso é capaz de se lançar e buscar.
A existência do homem é uma condição para ele construir-se como homem, pois sua realidade humana consiste no hoje que determina realizar. Por isso, o homem é responsável por si próprio, não no sentido individualista e intimista, mas responsável por todo os homens.
O subjetivismo no sentido existencialista é o homem que escolhe a si próprio e ao mesmo tempo todos os homens. Nesta escolha, o homem escolhe somente o bem e nada pode ser bom para um indivíduo se não for para todos. Assim, a escolha envolve toda a humanidade. Relacionando com a atualidade, mesmo que as escolhas sejam subjetivistas elas terão repercussão no todo. Daí , pode-se pensar hoje a preocupação com uma ação global em favor da vida, da paz e da ecologia, de forma que um gesto particular há de certa forma influenciar o todo, apelando para o senso de totalidade, mesmo se tratando de escolhas individuais.
O homem reconhecendo-se livre, percebe que não é apenas o que escolheu ser, mas também um legislador, que ao escolher escolhe também toda a humanidade. Dessa forma, ele se angustia porque tem que escolher a sua vida, o seu destino e dessa forma escolhe a humanidade e por isso não pode escapar do senso de responsabilidade.
Ele tem de escolher a vida e o seu destino sem nenhum apoio ou orientação de ninguém. O homem se encontra na condição de desamparo porque não tem algo em última instância que o salve, nem valores eternos.
O homem nada mais é do que uma série de empreendimentos, a soma, a organização, o conjunto de relações que constituem tais empreendimentos. Ele tem o destino em suas mãos e a esperança está em sua ação e ela é a única coisa que permite ao homem viver.
Se em Sartre se valoriza e se destaca o sujeito que escolhe e está fadado a sempre escolher, a contemporaneidade tem como princípio caracterizador a subjetividade. De forma que o homem não é visto mais como fenômeno totalizante com o mundo, mas nele o homem encontra seu lugar e seu destino. Esse distanciamento do mundo permite ao homem a descoberta de sua subjetividade, ele se descobre inserido totalmente no mundo. Como ser no mundo o homem estende-se para além do mundo, com capacidade de transformá-lo em função de si.
A liberdade em Sartre nada mais é do que a atuação do homem pela liberdade sobre o mundo e a realidade que o rodeia, dando assim sentido ao mundo. Nos tempos hodiernos o homem se contrapõe ao mundo como apenas meio para sua auto-realização. No pensamento sartreano, o homem é fonte de sentido para si mesmo. A partir de sua liberdade, isto é, sua incondicional condição, o homem vai escolhendo e se construindo. Essa tarefa de autogênese do homem será sempre incompleta.
Dentre os pontos de convergência da contemporaneidade e do pensamento do filósofo francês Jean-Paul Sartre, há a afirmação do eu. Essa afirmação leva em conta o contexto histórico e a forma como o homem tratará o mundo em que vive e toma decisões ante ao que lhe é apresentado. Expressa, também, o desejo do homem tomar o futuro e as esperanças dele em suas próprias mãos. Outro fator que está presente na contemporaneidade e está intimamente ligado a Sartre é a tentativa de fundar uma nova época tendo por base uma racionalidade que se auto-afirma no lugar de uma determinação teológica. Sartre parte do princípio de que Deus não existe e a partir dessa afirmação é que se construirá o homem e sua história. Fazer suas escolhas e se auto-construir  sem qualquer ordenação divina-daí se vê onde brota a angústia sartreana.
A principal caracterização da filosofia contemporânea é a encarnação da própria filosofia, ou seja, o seu lugar é na temporalidade. Dessa forma, coloca-se o homem na existência. A liberdade se torna casual, a existência dela é criativa. Ao afirmar o homem como centro ele não tem um ponto de referência, ele é o fim da ação.


Referências
SARTRE, Jean-Paul. O existencialismo é um humanismo. São Paulo: Nova Cultural, 1987.
_____. O ser e o nada. Petrópolis: Vozes, 1997.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Filosofar é uma atividade contínua em busca de algo

Geraldo Trindade
A Filosofia é uma ilustre desconhecida em nossa sociedade.
Sabe-se dos avanços reflexivos e das atividades do pensar promovidos pelo homem. Este provocado pelos problemas, pelas dificuldades e questões que o aflinge e permeiam toda a sociedade necessita re-elaborar todo o pensamento, convicções e compreensões.
A tentativa de pensar o problema e assim procurar sua solução é tão importante e necessária quanto a mera descrição do fato. É verdade que os problemas que atormentam nossa humanidade não sejam tão inovadores, porém estão presentes e são tão atuais quando surgiram. Aqueles que se propõem a pensá-los nem sempre encontram soluções e respostas, mas, às vezes propostas, embora não possam ser consideradas definitivas e absolutas.
A realidade é um convite permanente à reflexão. Assim sendo, a Filosofia desponta como uma análise pensante, racional e lógica de uma realidade, que é síntese e símbolo de sua época, embasada somente na capacidade de pensar.
Os “amigos da sabedoria” se prezam em estudar os problemas, a discutir as conclusões abrindo sempre novas perspectivas. Tais questões não podem ser tratadas em laboratórios; através de cálculos matemáticos, fórmulas químicas; mas são avaliados por uma explicação racional, com validade geral e que é aceita em sua época.
Enquanto cada ciência, como a biologia, a física, a economia, dentre outras, procuram explicar parte da realidade. Resta, destarte, à Filosofia analisar a realidade a partir de uma cosmovisão. Em paralelo à filosofia sistemática, metódica e acadêmica há a chamada filosofia de vida; que é a visão de vida e de mundo que cada um tem para si como verdade. Essa forma não deixa se ser a análise de aspectos diversos, já que a realidade é um convite permanente à reflexão. Assim, a Filosofia em suas mais diversas matizes desponta como uma análise pensante, racional e lógica de uma realidade.
A ânsia de saber é necessária. Como é também necessário sair do comodismo. Não é a busca de querer encontrar soluções e conclusões imediatas e sólidas, mas tanto na Filosofia quanto no simples pensar humano a dúvida se faz presente. Pode-se abranda-la ou diminuí-la, mas nunca aboli-la. Ela proporciona a capacidade de sempre avançar, buscando sempre novos horizontes.
A Filosofia é como diz o filósofo Bertrand Russel, “uma atividade contínua e não algo que possamos atingir, de uma vez por todas.”



Cipotânea e suas origens nos seus 300 anos de história
Geraldo Trindade
            A pequenina cidade de Cipotânea no interior de Minas Gerais, que se garba galanteosamente pelos seus rebentos e pela sua história, comemora neste ano de 2011 os seus 300 anos de fundação.
            VIVA CIPOTÂNEA!
            Este rincão em meio à Zona da Mata mineira faz divisa com as seguintes cidades: Rio Espera, Senhora de Oliveira, Lamim e Alto Rio Doce. A origem deste município está na descida dos desbravadores portugueses Francisco Soares Maciel, Narciso Soares Maciel, Manoel Duarte, Fernando Soares Maciel, Manoel de Medeiro Duarte , Jose da cunha; que provindo de Lamim, descendo o Rio espera pararam na confluência com o Xopotó. No dia 7 de agosto de 1711, batizaram estas terras com o nome de São Caetano do Xopotó.
São Caetano em homenagem ao santo do dia e Xopotó, que significa cipó amarelo. Porém, antes mesmo de se chamar Cipotânea e São Caetano do Xopotó,  a região eram chamada de Xipotaua pelos índios do grupo puris, das tribos Croata e Koropos, que viviam às margens do rio Piranga e Xopotó.
Ora, mas o que se comemora desde 1711 até este ano de 2011?
Comemora-se a vitória e a garra de cada um que nasceu nestas paragens: índios, caboclos, negros, brancos, pardos...  É essa sede na busca de seus sonhos e na conquista de seus ideais é que brotam espontaneamente neste ano. De certo, os cipotâneanos buscam suas origens e devem valorizá-las como forma suprema de encontrarem com seus antepassados.
Neste ano do tri-centenário de Cipotânea, muitas comemorações, certamente, deverão marcar esta data. Lancemos, unidos, cipotaneanos de nascença e de coração, essa festa bonita e juntos congraçarmos felizes. CIPOTÂNEA, 300 ANOS DE HISTÓRIA!!!
O que penso neste início de ano
Geraldo Trindade
                Assisti no dia 1º de janeiro o desfile inédito da primeira presidente ( é como prefiro chamar) Dilma Rousseff. Ouvi seus pronunciamentos, como também de alguns governadores empossados. Para completar o quadro épico a platéia era evidentemente de rostos conhecidos: deputados, senadores, personalidades do ramo político; ou seja, velhos rostos conhecidos.
                Em meio a tudo isso, preferi pensar o que leva uma pessoa a pleitear e assumir cargos públicos: presidência, senado, câmaras, prefeituras.
                Pois bem, o que vejo? E também o que não vejo, mas suspeito.
                Às vezes a política me constrange e me deixa envergonhado. Parece que tudo é interesse, não só dos políticos (que certamente os tem em exacerbância), mas também dos eleitores. A moral, o ser e agir correto descarrilharam-se e foram parar em um  lugar inóspito, onde ninguém os encontram. Alia-se a isso o foco desfocado do bem comum para os interesses próprios. Os discursos, as posturas, as idéias e os ideais (para meu espanto) são voláteis, de acordo com o interesse, não comum, mas particularmente (geralmente, o da conta bancária e do poder). O que transparece é que o poder e dinheiro são sempre bem-vindos a qualquer custo.
                Mais uma vez, a política me constrange e me envergonha.
                Acompanho a atribulada vida política do Brasil pelos meios de comunicação (que certamente, não noticiam tudo com imparcialidade). Minha reação é de perplexidade. Espanta-me ao ver que pessoas que roubam dos cidadãos brasileiros são tratados com deferência em fóruns privilegiados (quem rouba é ladrão; essa é a lei geral. Será?). Mais me espanta ainda é ouvir da parte de pessoas “que é isso mesmo”, que “se fosse ele faria pior”(isso me doi, pois demonstra ser igual ou pior que o defraldário).
                Tudo isso me constrange e me envergonha.
                Para não me acusarem de só apontar falhas ( que me incomodam) prefiro ir pensando além. A política não é lugar de competição, de partidarismo, de disputas por cargos, mas é lugar de práticas de cooperação em vista do bem comum (disso não se pode abrir mão). Nessa re-transformação da real missão da política devem estar enganchados os próprios políticos, intelectuais, agentes culturais e nós, cidadãos e cidadãs de bem, que a cada dia procuramos viver corretamente e preferimos viver assim para podermos dormir os sonos dos justos a noite.