domingo, 18 de agosto de 2013

Dom Luciano Mendes: Dom e Luz



Geraldo Trindade 

            Há 7 anos, o Brasil se despedia de um homem, de um bispo, de um santo. No dia 27 de agosto de 2006 partia e deixava-nos dom Luciano: “Luz e Dom de Deus”. A luz e o dom presente em dom Luciano não passavam despercebidos, tocavam a alma e o coração de cada um que o encontrava por mais ligeiros e sutis tais encontros: era o doce olhar, o meigo toque, a singeleza da postura e o desarmamento de suas palavras.
            Esta presença reconfortadora encontramos também no papa Francisco. Em muito eles se assemelham; não simplesmente por serem jesuítas. Na ocasião de sua eleição para a cátedra de Pedro, o cardeal Bergólio, agora papa Francisco, escutou ao pé do ouvido as palavras do cardeal Cláudio Hummes: “Não esqueça dos pobres!” Intuitivamente, veio à minha mente a narração do fato de que dom Luciano antes de morrer disse ao seu irmão Luiz Mendes de Almeida: “Não esqueça dos meus pobres!”
            Os escolhidos de dom Luciano foram os mesmos que Jesus escolheu, os pobres. Eles encontraram no coração do bispo marianense receptividade, mais do que isso, encontraram um coração disposto que escolheu a simplicidade, a generosidade e a proximidade como o cartão visita. Além do mais, a dom Luciano era essencial servir à comunidade, sobretudo os mais necessitados, os que estão à margem da sociedade e de nossa atenção. Para ele amar não é uma simples doutrina, é um estilo e uma prática de vida. De fato, “a Luz e o Dom do Brasil” soube levar ao cumprimento a Lei do Senhor, crendo, ensinando e praticado o que professava e ensinava.
            Eis o grande legado de dom Luciano: seu amor aos humildes e pequenos por meio de sua atitude serviçal. Para quem fez da frase: “Em que posso ajudar?” seu lema de vida, não é de se espantar que não medisse esforços para viver
Foto:Jornalista Carlos Pacelli/ Arquivo
radicalmente o seguimento a Cristo. Essa escolha fundamental por Cristo se expressa bem no documento de Santo Domingo, em especial na oração que levou em seu bojo os dedos e as mãos do arcebispo. Expressa-se na seguinte forma: “Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus vivo, Bom Pastor e irmão nosso, nossa única opção é por Ti.” A radicalidade de sua vida encontra em Jesus Cristo seu fundamento, seu amor radical pelo outro encontra sua fonte em Jesus Cristo, sua caridade fraterna encontra em Jesus Cristo o exemplo!
            Dom Luciano soube como ninguém encarnar o Evangelho. Aliás, os santos se diferenciam exatamente por serem o Evangelho vivo, capazes de nos interpelarem na prática da nossa vida e do nosso seguimento a Jesus Cristo. Os santos irradiam sobre a terra um teor de vida mais humana, graças a eles a humanidade se torna mais humana. Eles são capazes de alimentar o mundo com frutos espirituais e infundir o espírito do Evangelho.
            No dia 27 de agosto, a Arquidiocese de Mariana, na qual dom Luciano foi seu 4º arcebispo, presta sua homenagem por meio da Comenda dom Luciano Mendes de Almeida do Mérito Educacional e Responsabilidade Social. Neste dia, na catedral metropolitana haverá celebração eucarística às 18h30. Logo após, haverá a outorga da comenda aos homenageados: mons. Lázaro de Assis Pinto, mons. Pedro Terra Filho, padre Marcelo Moreira Santiago, padre Márcio Antônio de Paiva, prof. dr. Emilién Vilas Boas Reis e Arsenal da Esperança dom Luciano Mendes de Almeida.

            Esta homenagem prestada ao nosso “Dom e Luz” vai para além da recordação saudosa do homem e do legado do arcebispo. É o tempo da graça de Deus, o kairós, para reavivar em nós, por meio do seu testemunho profundo e radical com o bem do próximo, o comprometimento; não opcional, mas inerente à vida cristã, o cuidado com o próximo. Resta-nos o questionamento à luz da Palavra de Deus: “de quem me faço próximo?” Do pobre, do excluído, do marginalizado, do violentado, do malvisto?

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Pós JMJ: bote fé, bote amor, bote esperança!

Geraldo Trindade

Após a tão aguardada Jornada Mundial da Juventude no Rio trazemos no coração um novo ardor e uma fé mais viva e disposta a dar testemunho contra a corrente, aliás tão ressaltado pelo papa Francisco. Foram dias de muitas experiências ricas: a unidade na mesma fé, as orações em comuns, a Palavra de Deus refletida, a Eucaristia celebrada, a alegria de ser fiel discípulo do Senhor, que traz em si o desejo de partilhá-la com os demais, o respeito, a paz... A experiência de peregrinar, caminhar, seguir confiando não na mochila que os jovens traziam em suas costas, mas simplesmente confiando no Senhor. “Confia no Senhor e faze o bem, habita na terra e vive tranquilo” (Sl 37, 3).
            Sem sombras de dúvida a JMJ marcou positivamente a Igreja no Brasil e a evangelização da juventude. Os milhões de jovens no Rio e acompanhando pelos meios de comunicação se transformou em um dos mais belos testemunhos de fé que o mundo viu. De fato, como o próprio papa lembrou: são os jovens seus herois porque expressam o rosto jovem de Cristo. Os jovens exortados pelo Papa Francisco foram convidados a acrescentarem três elementos em suas vidas: fé, amor e esperança.
            É preciso que a cruz plantada no coração de cada católico o faça ser campo aberto, onde haja receptividade para Cristo e sua Palavra. É preciso que se deixe envolver-se e dar-se por Jesus Cristo. O jovem é marcado por grandes ideais, que apostam alto, que querem escolhas definitivas que garantam sentido às suas vidas. E é exatamente estes grandes desejos que encontram em Cristo e em sua Igreja a resposta necessária.
De fato, podemos ter a certeza que a Nova Evangelização empreendida a partir do Beato João Paulo II tem nas jornadas um dos momentos altos, pois elas despertam para a sensibilidade da fé, tira-nos do comodismo para nos lançarmos ao Mistério, que é Deus, ao outro, que é meu irmão.
As jornadas são o sinal de que a Igreja está próxima, ama, cuida e acaricia os seus fieis. Em um tempo tão marcado pela violência, pelo individualismo, consumismo, corrupção, esvaziamento, depressão; os jovens gritaram no silêncio orante de Copacabana que vale a pena trazer no peito a cruz de Cristo, que vale a pena ter fé e experimentar a proximidade com Cristo. É possível ter fé e dialogar com o mundo. São jovens no mundo, que contra a corrente, na mais variadas vezes, afirmam seu amor a Deus sem perder a alegria e a ternura, tão bem expressados nos cantos, nos sorrisos, nos abraços e nos apertos de mão. Aliás, tais gestos foram a marca da passagem do papa Francisco pelo Brasil – fé e esperança de que vale a pena crer. “Partilhar a experiência da fé, testemunhar a fé, anunciar o Evangelho é o mandato que o Senhor confia a toda a Igreja, também a você. É uma ordem, sim; mas não nasce da vontade de domínio, da vontade de poder. Nasce da força do amor, do fato que Jesus foi quem veio primeiro para junto de nós e não nos deu somente um pouco de Si, mas se deu por inteiro, Ele deu a sua vida para nos salvar e mostrar o amor e a misericórdia de Deus. Jesus não nos trata como escravos, mas como pessoas livres, como amigos, como irmãos; e não somente nos envia, mas nos acompanha, está sempre junto de nós nesta missão de amor” (Papa Francisco).