quarta-feira, 13 de novembro de 2013

ANO DA FÉ: término ou início?





Geraldo Trindade

            O Ano da Fé convocado por Bento XVI teve início no dia 11 de outubro de 2012, mesmo dia em que há 50 anos se celebrava a abertura do Concílio Vaticano II. Destacou-se, dessa forma, que o Concílio e seus desdobramentos giram em torno do anúncio ao homem de hoje sobre Deus e da importância da fé para sua vida. No fim deste ano tão especial fica claro que foi uma ocasião única para reavivar a fé dos católicos e animá-los no espírito de uma evangelização mais convicta.
            A Igreja não é uma realidade estática e à parte do mundo que a cerca. Daí a necessidade de compreender o Vaticano II como um evento carregado de esperança no intuito de favorecer o anúncio do Evangelho de Cristo. A Igreja renova ininterruptamente a Sua fé no Senhor Jesus. A fé, que a Igreja é depositária e guardiã, é uma abertura ao amor de Cristo! Ela alarga o “eu” a uma dimensão de “nós” e do “humano” ao “divino”.
            No dia 24 de novembro, Solenidade de Cristo Rei do Universo, se dará o encerramento do Ano da Fé pelo papa Francisco. Neste período muito foi feito e promovido: esforço em valorizar a fé, conhecendo-a, aprofundando-a e vivendo-a com mais intensidade; aprofundamento nos documentos conciliares; valorização do Catecismo da Igreja Católica, o seu estudo como oportunidade de aprofundamento da fé e torná-la consciente e firme; ações para a transmissão da fé; renovação missionária da Igreja em nível local e paroquial; o fortalecimento da fé, em meio às adversidades, pelo testemunho cristão...
            Encerra-se o Ano da Fé, mas o esforço empreendido se perpetua. A fé, após este ano, deve sair mais robusta, mais esclarecida, mais capaz de dar testemunho e de experimentar a confiança no Senhor. Conhecer, viver e transmitir a fé são compromissos irrenunciáveis do batismo e devem ser assumidos no findar deste ano. Os esforços não se esgotam em um tempo determinado, mas traduzem a missão perene da Igreja: viver da fé professada, vivida e celebrada em Jesus Cristo.
            Por isso, o itinerário proposto pelo papa emérito na Carta Apostólica Porta Fidei (PF) e levado adiante pelo Francisco continua atual, necessário e enriquecedor para a fé e a Igreja. A fé é um meio para um acesso exclusivo à intimidade profunda com Deus (PF 1). No itinerário de fé é preciso que se ajude os outros a atravessarem o deserto e encontrem Cristo, fonte que sacia todas as sedes (PF 2). Destaque neste itinerário é a Palavra de Deus e a Eucaristia. “Devemos readquirir o gosto de nos alimentarmos da Palavra de Deus, transmitida fielmente pela Igreja, e do Pão da vida, oferecidos como sustento de quanto são seus discípulos (cf. Jo 6, 51)” (PF 3).
            É preciso que cada fiel experimente e testemunhe o amor de Deus, pois “os cristãos são chamados a fazer brilhar, com a sua própria vida no mundo, a Palavra de verdade que o Senhor Jesus nos deixou” (PF 6). É necessário reacender a chama da fé por meio da conversão constante ao Senhor da vida, do coração e das ações pastorais (PF 6). Neste processo metanoico a fé cresce e se fortalece quando se abandona progressivamente no amor de Deus (PF 7).

            Outros dois pilares que se deve valorizar são o valor da profissão de fé (PF 9) e o estudo do catecismo (PF 11); como também a vivência e o testemunho da caridade (PF 14). Assim, o Ano da Fé não encontra seu término no plano espiritual, mas se constituirá, para além da data oficial do programa da Igreja, uma disposição de vida espiritual rico e inesgotável para crescer na fé e no amor a Igreja e, acima de tudo, a Cristo (PF 15).

domingo, 3 de novembro de 2013

E, agora, jovem?!

Geraldo Trindade




            O ano de 2013 foi singular na vida da Igreja Católica no Brasil, pela escolha da juventude como sua prioridade. A CNBB escolheu como tema da Campanha da Fraternidade a juventude, o Rio de Janeiro sediou a Jornada Mundial da Juventude.  Transpareceu que a Igreja Católica quer respirar com os jovens, caminhar com eles, sonhar seus sonhos, lutar suas lutas...
            A peregrinação da cruz e do ícone de Nossa Senhora pelas comunidades em nosso país favoreceu com que a presença da Igreja, que tem com missão comunicar Cristo, estivesse junto às mais variadas realidades: educacionais, de sofrimento, exclusão, de trabalho, de oração, caminhada, reflexão, celebrações, adoração...
            A JMJ marcou vivamente a memória de todos os que lá estiveram ou acompanharam pelos meios de comunicação. Em torno do sucessor de Pedro, Francisco, que tem como missão confirmar na fé, os jovens puderam renovar seu compromisso com a humanidade e com Jesus Cristo, atendendo o Seu convite: “Ide e fazei discípulos entre todas as nações”.
            Muitos bons propósitos, planos, projetos e iniciativas surgiram a partir das vivências desses momentos e de inúmeros outros. Passado o tempo de empolgação inicial, é hora de verificarmos as chamas que ainda fumegam, de planos e iniciativas, que não estão apenas ancorados em nós mesmos, mas no fundamento, que é Cristo e no desejo de segui-Lo. Porém, a relação do jovem com a Igreja passa, necessariamente, pelos ministros sagrados, consagrados, passa pelas nossas paróquias, pastorais e movimentos. Será que todos esses agentes têm também se ocupado com os jovens? Estão eles comunicando e proporcionando uma experiência de Deus? A juventude tem sido prioridade pastoral em vários planos, mas tem se constituído em ação de oportunidade, escuta, participação dos jovens como força ativa em nossas comunidades?
            Não pode ser permitido aos jovens a apatia diante da fé, do projeto de Jesus Cristo, da vida social do nosso país e das realidades mais desafiadoras e excludentes! É preciso que os jovens saibam viver, buscando os mais altos valores, os projetos mais audaciosos, os sonhos mais preciosos... Viver é pouco se se não coloca razão no dia-a-dia da vida, dando sentido a partir de uma meta de vida. O que muda a história é o que, antes, muda o coração humano. Nada melhor do que deixarmos enquanto batizados, que seja Cristo capaz de nos encantar com sua vida, seus gestos e posturas. Não podemos considerar Jesus totalmente conhecido e apreendido por nossa razão e sentimentos, é sempre uma novidade que deve nos questionar e nos encantar.

            “ Ide, sem medo, para servir. Seguindo estas três palavras, vocês experimentarão que quem evangeliza é evangelizado, quem transmite a alegria da fé, recebe mais alegria. Queridos jovens, regressando às suas casas, não tenham medo de ser generosos com Cristo, de testemunhar o seu Evangelho.  Deus envia o profeta Jeremias, lhe dá o poder de ‘extirpar e destruir, devastar e derrubar, construir e plantar’ (Jr 1,10). E assim é também para vocês. Levar o Evangelho é levar a força de Deus, para extirpar e destruir o mal e a violência; para devastar e derrubar as barreiras do egoísmo, da intolerância e do ódio; para construir um mundo novo.” (Papa Francisco).