Geraldo Trindade
Após 10 anos da partida de Dom Luciano
Pedro Mendes de Almeida, brota espontaneamente a memória viva e cativante da
sua simplicidade, do seu amor aos pobres, das suas renúncias, da sua docilidade
com a fraqueza do próximo, da sua firmeza e insatisfação na injustiça. Ele que
foi desde sua morte chamado de santo, agora passa pelo resgate de suas virtudes
evangélicas que devem motivar a vida cristã de cada homem e mulher no dia de
hoje.
Dom Luciano
nasceu no Rio de Janeiro no dia 5 de outubro de 1930 foi o primeiro bispo
jesuíta no Brasil. Era arcebispo de Mariana quando faleceu aos 75 anos de idade
no dia 27 de agosto de 2006. Exerceu funções de relevância nos diversos
sínodos em Roma, foi secretário geral (de 1979 a 1986) e presidente (1987
a 1994) da CNBB. Atuou na Pontifícia Comissão Justiça e Paz, do Conselho
Episcopal Latino-Americano e da Comissão Episcopal para a Superação da Miséria
e da Fome. Porém, nada disso encerra a sua vida e muito menos sua santidade.
A santidade é vida que brota da
cotidianidade da vida, onde se tem que desapegar, se libertar e se desprender
de certas coisas para possuir outras. Grandes e pequenas renúncias se
entrelaçam nos santos e isso não poderia ser diferente com nosso Dom Luciano, a
fim de que levasse de forma mais efetiva na sua vida um amor total, sem horas,
sem reservas para com seus pobres, que são também os pobres de Deus. Seu amor a
eles em circunstâncias que poucos de nós seríamos capazes de amar colocou e
ainda coloca em xeque nosso amor próprio, nossos egoísmos e falsidades.
Talvez, após essa década, perguntemos se
Dom Luciano buscou a santidade pela santidade. Acredito que não, pois buscou,
sobretudo, servir ao outro “in nomine Iesu”, “em nome de Jesus” sem grandes
pretensões a não ser levar um poço de alento e conforto aos mais sofridos e
excluídos, falando do amor de Deus por meio dos seus gestos de amor, do seu
sorriso manso, da sua voz firme e profética, mas carregada de imensa sutileza,
da sua vida de oração, que fazia assimilar e viver que o Evangelho de Jesus, Deus
conosco, é acima de tudo Boa Nova de alegria às pessoas, uma mensagem de que
Deus ama estar com os pequenos e impulsiona a quem tem fé e proclamar sempre
que nenhum dos filhos de Deus estão sozinhos.
“Antes de tudo, devemos
ter bem presente que a santidade não é algo que nos propomos sozinhos, que nós
obtemos com as nossas qualidades e capacidades. A santidade é um dom, é a
dádiva que o Senhor Jesus nos oferece, quando nos toma consigo e nos reveste de
Si mesmo, tornando-nos como Ele é. Na Carta aos Efésios, o apóstolo Paulo
afirma que ‘Cristo amou a Igreja e se entregou por ela para a santificar’ (Ef 5, 25-26). Eis que,
verdadeiramente, a santidade é o rosto mais bonito da Igreja, o aspecto mais
belo: é redescobrir-se em comunhão com Deus, na plenitude da sua vida e do seu
amor. Então, compreende-se que a santidade não é uma prerrogativa só de alguns:
é um dom oferecido a todos, sem excluir ninguém, e por isso constitui o cunho
distintivo de cada cristão” (Papa Francisco, audiência 19/11/2014).
Nosso arcebispo
marianense resguarda para a posteridade essa bela face da Igreja, que a torna
mais santa, mais atraente e mais pertencente a Seu Senhor Jesus. Podemos fazer
memória dos casos, encontros e gestos do bispo dos pobres; o mais importante
que brota disso é quando tudo isso confronta com nossa vida e prática cristã e
nos sentimos envergonhados pelas nossa misérias e instantaneamente acende em
nós o desejo de sermos mais de Deus, de nos deixar cativar e envolver por Ele
em um entusiasmo que transborda no amor e nas renúncias pelo nosso próximo,
como ele pediu no leito de morte: “Não se esqueçam dos meus pobres!” Agora podemos dizer e repetir como ele: “Deus
é bom”. E é muito bom ter essa certeza,
como o é também pelo seu modelo, por sua vida que nos inspira e nos ajuda a
conformar nossa vida à vida de Jesus.
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