Geraldo Trindade – padre na Arquidiocese de Mariana
No dia 11 de fevereiro de
2013 em um consistório convocado
para decisão sobre três canonizações, Bento XVI anunciou, diante de um mundo
que parou atônito, a sua renúncia ao Trono de Pedro. O que na época criou
vários rumos, prós e contra, após esses três anos podem ser compreendidos a
partir do que deve ser compreendido a partir do que deve ser compreendido, ou
seja, à luz do mistério de Cristo, que resplandece na sua Igreja e de variados
modos e maneiras conduz por meio do Espírito Santo a barca de Pedro por meio do
mar revolto.
Bento XVI sempre foi um acadêmico, um intelectual e um teólogo de grande
envergadura. A Sé Petrina lhe tirou a força físisca e espiritual dificultando a
condução dos trabalhos e do governo da Igreja. Mas, isso em nenhum momento pode
ser encarado sem a dimensão humana e divina do ato porque o ato humano foi
redimensionado por meio da oração ao mistério de amor, humildade e desapego que
deve caracterizar a vida do cristão. Assim escolheu no recanto de um mosteiro
passar os últimos dias de sua vida como sinal de que nas suas preces continuará
a sua missão evangelizadora e de amor à Igreja.
O gesto da renúncia de Bento mostrou claramente que a Igreja, barca de Pedro,
não pertence ao papa, mas sim ao seu Senhor, Cristo Jesus. Com seus gestos singelos
e firmes, Bento XVI exerceu com maestria seu trabalho apostólico e no último
gesto do seu pontificado mostrou a importância do desapego às coisas terrenas.
No seu último Ângelus falou de forma alentadora: “Não abandono a Igreja,
continuarei a servi-la com a mesma dedicação e amor”. E isso tem feito com
generosidade e discrição!
Além do legado espiritual e do seu gesto, o papa emérito exerceu seu magistério
pontifício com frutuosidade. Deixou-nos três encíclicas: Deus caritas est (Deus
é amor), Spes salvi (Salvo pela Esperança) e Caritas in veritate (Caridade em
Verdade). Além de importantes livros de sua própria autoria, como a série
“Jesus de Nazaré”, iniciada quando ainda era Cardeal. Bento XVI soube dar
continuidade à “Primavera da Igreja”, à qual o Concílio Vaticano II exortou. E,
por fim, deixou o “Ano da Fé” e a proposta de uma nova evangelização.
Lutou na defesa da vida e da dignidade humana buscando expandir a voz do
antecessor, São João Paulo II. Apresentou reflexões mostrando a dignidade
de filhos de Deus além da reafirmação dos valores morais cristãos, pelo
firme não à “ditadura do relativismo” e constante diálogo com as demais
religiões.
A
renúncia de Bento XVI trouxe à Igreja o nosso Francisco. A certeza de
continuidade é própria da nossa fé. O apóstolo Paulo vem nos lembrar: “um é o
que planta, outro o que rega e outros os que colherão os frutos” (cf.1Cor
3,6-9). O Papa Bento XVI plantou uma semente de esperança com a sua força
de fé e compromisso com o Senhor Jesus, e juntos devemos regar a mesma semente
a fim de que produza frutos para a honra de Jesus Cristo.
Devemos
ver a história da Igreja com confiança em Deus e acima de tudo fé.
Sabendo que são verdadeiras as palavras de Jesus sobre o Mistério, que é a
Igreja, que brota do Seu coração aberto na Cruz, "As portas do inferno não
prevalecerão!" (Mt 16, 18).Estas palavras permanecem inabaláveis e
verdadeiras através dos séculos!
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