Geraldo Trindade
Há 7 anos, o Brasil se despedia de
um homem, de um bispo, de um santo. No dia 27 de agosto de 2006 partia e
deixava-nos dom Luciano: “Luz e Dom de Deus”. A luz e o dom presente em dom
Luciano não passavam despercebidos, tocavam a alma e o coração de cada um que o
encontrava por mais ligeiros e sutis tais encontros: era o doce olhar, o meigo
toque, a singeleza da postura e o desarmamento de suas palavras.
Esta presença reconfortadora
encontramos também no papa Francisco. Em muito eles se assemelham; não
simplesmente por serem jesuítas. Na ocasião de sua eleição para a cátedra de
Pedro, o cardeal Bergólio, agora papa Francisco, escutou ao pé do ouvido as
palavras do cardeal Cláudio Hummes: “Não esqueça dos pobres!” Intuitivamente,
veio à minha mente a narração do fato de que dom Luciano antes de morrer disse
ao seu irmão Luiz Mendes de Almeida: “Não esqueça dos meus pobres!”
Os escolhidos de dom Luciano foram
os mesmos que Jesus escolheu, os pobres. Eles encontraram no coração do bispo
marianense receptividade, mais do que isso, encontraram um coração disposto que
escolheu a simplicidade, a generosidade e a proximidade como o cartão visita.
Além do mais, a dom Luciano era essencial servir à comunidade, sobretudo os
mais necessitados, os que estão à margem da sociedade e de nossa atenção. Para
ele amar não é uma simples doutrina, é um estilo e uma prática de vida. De
fato, “a Luz e o Dom do Brasil” soube levar ao cumprimento a Lei do Senhor,
crendo, ensinando e praticado o que professava e ensinava.
Eis o grande legado de dom Luciano:
seu amor aos humildes e pequenos por meio de sua atitude serviçal. Para quem
fez da frase: “Em que posso ajudar?” seu lema de vida, não é de se espantar que
não medisse esforços para viver
radicalmente o seguimento a Cristo. Essa
escolha fundamental por Cristo se expressa bem no documento de Santo Domingo,
em especial na oração que levou em seu bojo os dedos e as mãos do arcebispo.
Expressa-se na seguinte forma: “Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus vivo, Bom
Pastor e irmão nosso, nossa única opção é por Ti.” A radicalidade de sua vida
encontra em Jesus Cristo seu fundamento, seu amor radical pelo outro encontra
sua fonte em Jesus Cristo, sua caridade fraterna encontra em Jesus Cristo o
exemplo!
Foto:Jornalista Carlos Pacelli/ Arquivo |
Dom Luciano soube como ninguém
encarnar o Evangelho. Aliás, os santos se diferenciam exatamente por serem o
Evangelho vivo, capazes de nos interpelarem na prática da nossa vida e do nosso
seguimento a Jesus Cristo. Os santos irradiam sobre a terra um teor de vida
mais humana, graças a eles a humanidade se torna mais humana. Eles são capazes
de alimentar o mundo com frutos espirituais e infundir o espírito do Evangelho.
No dia 27 de agosto, a Arquidiocese
de Mariana, na qual dom Luciano foi seu 4º arcebispo, presta sua homenagem por
meio da Comenda dom Luciano Mendes de Almeida do Mérito Educacional e
Responsabilidade Social. Neste dia, na catedral metropolitana haverá celebração
eucarística às 18h30. Logo após, haverá a outorga da comenda aos homenageados:
mons. Lázaro de Assis Pinto, mons. Pedro Terra Filho, padre Marcelo Moreira
Santiago, padre Márcio Antônio de Paiva, prof. dr. Emilién Vilas Boas Reis e
Arsenal da Esperança dom Luciano Mendes de Almeida.
Esta homenagem prestada ao nosso
“Dom e Luz” vai para além da recordação saudosa do homem e do legado do
arcebispo. É o tempo da graça de Deus, o kairós, para reavivar em nós, por meio
do seu testemunho profundo e radical com o bem do próximo, o comprometimento;
não opcional, mas inerente à vida cristã, o cuidado com o próximo. Resta-nos o
questionamento à luz da Palavra de Deus: “de quem me faço próximo?” Do pobre,
do excluído, do marginalizado, do violentado, do malvisto?
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