quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

O significado da renúncia


Geraldo Trindade – padre na Arquidiocese de Mariana

            No dia 11 de fevereiro de 2013 em um consistório convocado para decisão sobre três canonizações, Bento XVI anunciou, diante de um mundo que parou atônito, a sua renúncia ao Trono de Pedro. O que na época criou vários rumos, prós e contra, após esses três anos podem ser compreendidos a partir do que deve ser compreendido a partir do que deve ser compreendido, ou seja, à luz do mistério de Cristo, que resplandece na sua Igreja e de variados modos e maneiras conduz por meio do Espírito Santo a barca de Pedro por meio do mar revolto.

            Bento XVI sempre foi um acadêmico, um intelectual e um teólogo de grande envergadura. A Sé Petrina lhe tirou a força físisca e espiritual dificultando a condução dos trabalhos e do governo da Igreja. Mas, isso em nenhum momento pode ser encarado sem a dimensão humana e divina do ato porque o ato humano foi redimensionado por meio da oração ao mistério de amor, humildade e desapego que deve caracterizar a vida do cristão. Assim escolheu no recanto de um mosteiro passar os últimos dias de sua vida como sinal de que nas suas preces continuará a sua missão evangelizadora e de amor à Igreja.

            O gesto da renúncia de Bento mostrou claramente que a Igreja, barca de Pedro, não pertence ao papa, mas sim ao seu Senhor, Cristo Jesus. Com seus gestos singelos e firmes, Bento XVI exerceu com maestria seu trabalho apostólico e no último gesto do seu pontificado mostrou a importância do desapego às coisas terrenas. No seu último Ângelus  falou de forma alentadora: “Não abandono a Igreja, continuarei a servi-la com a mesma dedicação e amor”. E isso tem feito com generosidade e discrição!

            Além do legado espiritual e do seu gesto, o papa emérito exerceu seu magistério pontifício com frutuosidade. Deixou-nos três encíclicas: Deus caritas est (Deus é amor), Spes salvi (Salvo pela Esperança) e Caritas in veritate (Caridade em Verdade). Além de importantes livros de sua própria autoria, como a série “Jesus de Nazaré”, iniciada quando ainda era Cardeal. Bento XVI soube dar continuidade à “Primavera da Igreja”, à qual o Concílio Vaticano II exortou. E, por fim, deixou o “Ano da Fé” e a proposta de uma nova evangelização.  Lutou na defesa da vida e da dignidade humana buscando expandir a voz do antecessor,  São João Paulo II. Apresentou reflexões mostrando a dignidade de filhos de Deus além da  reafirmação dos valores morais cristãos, pelo firme não à “ditadura do relativismo” e constante diálogo com as demais religiões.

A renúncia de Bento XVI trouxe à Igreja o nosso Francisco. A certeza de continuidade é própria da nossa fé. O apóstolo Paulo vem nos lembrar: “um é o que planta, outro o que rega e outros os que colherão os frutos” (cf.1Cor 3,6-9).  O Papa Bento XVI plantou uma semente de esperança com a sua força de fé e compromisso com o Senhor Jesus, e juntos devemos regar a mesma semente a fim de que produza frutos para a honra de Jesus Cristo.  

Devemos ver  a história da Igreja com confiança em Deus e acima de tudo fé. Sabendo que são verdadeiras as palavras de Jesus sobre o Mistério, que é a Igreja, que brota do Seu coração aberto na Cruz, "As portas do inferno não prevalecerão!" (Mt 16, 18).Estas palavras permanecem inabaláveis e verdadeiras através dos séculos!


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