terça-feira, 28 de agosto de 2012

Vou fazer diferente nestas eleições de 2012.

Geraldo Trindade 

No próximo 7 de outubro em todo o Brasil haverá o que é chamado “festa da cidadania”, ou seja, as eleições, que neste ano são em nível municipal. É neste momento que o eleitor diante das urnas confiará a prefeitos e vereadores os cargos de condução e governo de nossas cidades. O ato de digitar alguns números pode até ser tomado como simples e passado algum tempo, cair no esquecimento individual e coletivo. Porém, os efeitos do voto costumam ter consequências que duram bem mais do que nossa memória. 

O envolvimento sério e consciente no pleito é questão de dever e direito do cidadão e auxilia na construção da democracia representativa, ou seja, os representantes (vereadores, prefeitos, deputados, senadores, governadores, presidente...) exercem seu poder em nome do povo e não com um poder próprio. Eles devem buscar em sua função de representantes do povo o bem comum da sociedade e nunca em favor do seu próprio bem ou de grupos. 


É evidente que o tempo que estamos vivendo é de descrédito em relação a política, pois ela e os políticos já não conseguem responder às questões, demandas e anseios da população. É preciso lembrar que pautar-se pela ética e por uma conduta ilibada não é somente matéria para discursos ou favor que se presta à sociedade. Ser correto não deve ser algo extraordinário ou material para campanha eleitoral. É obrigação de cada cidadão, inclusive de todos os que disputam e ocupam cargos públicos. 

Para que a corrupção,
os desmandos e a falta de transparência nas coisas públicas não se tornem um desencanto constante na vida dos brasileiros é preciso que se renovem as estruturas e as pessoas. Isso podemos por meio de nosso voto consciente. É preciso que homens e mulheres de fé se tornem sal, luz e fermento onde são ausentes os valores cristãos. Como pessoas de fé todos são chamados a escutar os clamores do povo, a se pautar por valores humanos e éticos condizentes com os valores reais do Evangelho para que se construa em nosso meio uma sociedade mais justa, fraterna e solidária.

As eleições municipais têm um distintivo, pois coloca em disputa projetos para solucionarem problemas que estão próximos do cidadão, tais como: educação, saúde, segurança, trabalho, transporte, moradia, lazer, cultura, ecologia... Além do mais, os candidatos são mais próximos, o que deve favorecer com que a escolha seja mais acertada. O voto é pessoal e intransferível, mas tem consequências para a vida de toda a comunidade, por isso não se pode pensar que o exercício da cidadania só se dá no momento em que se vota. 

É preciso que o eleitor estabeleça critérios dignos para discernir os autênticos políticos e estes estejam atentos para compreender que seu mandato é um serviço à população e não meio de se enriquecer ou de atender outros interesses. O verdadeiro político pensa no bem da sociedade, especialmente dos pobres e necessitados. “Eles, os políticos, precisam ter seu histórico de coerência de vida e discurso político referendados pela honestidade, pela competência, pela transparência e pela vontade de servir ao bem comum. Os valores éticos devem ser o farol a orientar os eleitores, em contínuo diálogo entre o poder local e suas comunidades.” (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil - CNBB) 

A partir deste horizonte algumas pistas nos deixam esclarecidos: vote sempre, pois não votar é omissão; vote com liberdade, pois na democracia se é livre para escolher; o voto é um direito e um dever de todo cidadão; não venda seu voto; conheça o candidato, sua história, suas alianças políticas; conheça o programa dos candidatos; fique atento às falsas promessas; vote com consciência exigindo projetos consistentes e que visem o presente e o futuro da cidade; examine quem está financiando a campanha do seu candidato e acompanhe os eleitos. As eleições são o começo de um processo e nunca o fim. Por isso, faça diferente, vote consciente.

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Rastros de luz: Dom Luciano Mendes e Dom Hélder Câmara


Geraldo Trindade 


          

       O arcebispo marianense, Dom Luciano Pedro Mendes de Almeida, é lembrado pela sua grandeza espiritual. Não foi apenas bispo, mas também companheiro, pastor, irmão de todos, doce e amável no trato. Quem o conheceu teve dele uma acolhida marcante e ímpar. Este próximo 27 de agosto remonta àquele de 6 anos atrás, quando este grande homem despedia-se deste mundo e adentrava aos céus com as palavras “Deus é bom!”

    O “bispo dos pobres” como era comumente chamado viveu sua fé na radicalidade e por isso se tornou um eco profundo de que se deve acreditar em Deus e  colocar em prática os valores evangélicos. Ele sabia como ninguém amalgamar a vida e a oração, não apenas em sua expressão verbal ou declarativa; mas plena na ação real e concreta. Ele soube, em meio às dores físicas e espirituais, aceitar a cruz por si mesma, pelos outros, pelos sofredores anônimos que padecem e por isso tocaram com profundidade a alma de Dom Luciano.

            As palavras, os gestos, a vida de Dom Luciano colocam em xeque as nossas palavras, gestos e a nossa vida. O bispo marianense sofria de alto senso de dignidade humana, que, muitas vezes, era incompreendido. Ele sofria com o outro, comportava-se com os outros tratando todos como iguais, dignos de confiança. Ele via em cada pessoa uma criatura amável, lida e admirável. Por tudo isso, ele foi deixando um rastro de luz por onde passou.


            A Comenda Dom Luciano Mendes de Almeida de Mérito Social e Educacional outorgado pela Arquidiocese de Mariana será no próximo dia 27. A homenagem à Dom Luciano terá início com uma celebração eucarística, na Catedral, às 18h30, seguida da sessão solene, no Centro Cultural Arquidiocesano Dom Frei Manoel da Cruz, onde será conferida a honraria da comenda aos homenageados: Dom Walmor Oliveira de Azevedo (arcebispo de Belo Horizonte), Dom Francisco Barroso Filho (bispo emérito de Oliveira), Dom José Belvino do Nascimento (bispo emérito de Divinópolis), Mons. Flávio Carneiro Rodrigues (diretor do Arquivo Eclesiástico de Mariana), Mons. Júlio Lancelloti (Vigário Episcopal para o Povo da Rua da Arquidiocese de São Paulo) e as Irmãs da Beneficência Popular.

            É também neste dia, que nossas memórias se misturam pela lembrança de outra figura singular, Dom Hélder Câmara, que foi arcebispo de Olinda e Recife. Ambos, dom Luciano e dom Hélder, souberam viver neste mundo a diaconia cristã, do serviço fraterno, alegre e impetuoso, pois eram tomados pela fé em Cristo e em seu projeto de salvação. Eles nos envergonham pela radicalidade e fidelidade ao Evangelho, pois sabiam que o mundo, sofrido, complexo, pluricultural, midiático e ideário, é espaço absoluto e completo da ação do evangelizador. Souberam anunciar as verdades da fé cristã no amor ao pobre, ao sofredor, à criança órfã, ao doente abandonado, ao faminto que clamava um pedaço de pão...

            Caracterizam estes santos homens a expressão de que souberam revestir-se de cotidiano as verdades eternas do Reino prometido. Esta atitude exige ser tomado pela pura humildade na mais completa atitude de ser servidor, tornando presente o amor de Jesus aos simples e pequenos. “Quando fizestes a um desses irmãos mais pequeninos, a mim fizestes.” (Mt 25, 40)