Família, formadora de Igreja viva
Geraldo Trindade
Em nossa caminhada eclesial é preciso refletir sobre o verdadeiro sentido da fé batismal, para que se viva plenamente a mensagem de Jesus Cristo e “ser Igreja no mundo de hoje”.
Vive-se hoje um tempo de mudanças velozes que leva à relativização da vida, do conhecimento como definitivo, de instabilidades em relação à ética e aos valores, de incertezas quando ao futuro da humanidade e do planeta. Soma-se a isso a globalização, o avanço desenfreado da técnica, da virtualidade e descobertas científicas. Neste contexto complexo e plural situa a Igreja com seus fieis que se encontram geralmente perdidos. Eles buscam, muitas vezes até sem saber que o fazem, um encontro com Deus que seja capaz de lhes preencher o coração.
Cada vez mais se observa que muitos adultos não tiveram um processo de iniciação à vida cristã e à inserção na comunidade. Muitas vezes são portadores de uma fé difusa, com o senso religioso aguçado, mas pouco evangelizados. Outra constatação é que enquanto o batismo respondia muito às necessidades da cristandade, na modernidade ele já não supre mais as necessidades. Hoje a fé deixou de ser doméstica, isto é, ela é cada vez menos transmitida pela família. Daí a necessidade de passar de um batismo de tradição para um batismo de opção de fé e por isso “a família é chamada a introduzir os filhos no caminho da iniciação cristã”. (DAp, 302)
A Igreja tem como finalidade a evangelização, ou seja, ela é anúncio da Boa Nova à toda a humanidade, a fim de transformá-la a partir de dentro. Tudo isso ela realiza sob o mandato de Jesus: “Ide, portanto, e fazei que todas as nações se tornem discípulos, batizando-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”. (Mt 28,19)
“Todo aquele que recebeu o batismo faz parte da família de Deus, é membro do Corpo de Cristo, e templo do Espírito Santo. Isso é um privilégio, uma honra. ‘Não forma vocês que me escolheram, mas eu que os escolhi.’ (Jo 15, 16). O que você pode fazer para corresponder a esse gesto de carinho é procurar ter ‘os mesmos sentimentos que havia em Jesus Cristo.’ (Fl 2,5). Quem tem verdadeira paixão pelo Pai e pelo Reino, demonstra uma grande compaixão pelo pequenos e sofredores, luta pela justiça, dá a vida para que todos tenham vida. Este é seu PLANO DE SALVAÇÃO.
Para nós participar da Igreja e assumir algum serviço na comunidade não é um dever, mas prazer. O que nos motiva é o encantamento por um Deus que, muito antes, se encantou por nós; é o desejo de que o PLANO do Pai seja conhecido e se realize me nossa vida e nos ambientes onde Deus nos colocou.” (Projeto Arquidiocesano de Evangelização, nº 4-5 – Arquidiocese de Mariana)
Em meio a essa nova realidade e estrutura que descortina a vida eclesial deve cada vez mais envolver toda a família, pois para a Igreja ela exerce um papel essencial na evangelização, na catequese, na inserção na comunidade e na transformação do mundo. Toda e qualquer união de um homem e uma mulher não pode se ausentar de ser responsável de assumir e educar os filhos em uma real formação cristã e religiosa.
A Igreja sempre conjugou a família cristã ao itinerário de iniciação à vida de fé. “Pelo sacramento do Matrimônio os pais recebem a graça e a responsabilidade de serem os primeiros catequistas de seus filhos. Mesmo diante dos desafios atuais da família, ela é chamada a dar os primeiros passos na educação da fé de seus filhos. Espera-se que seja no cotidiano do lar, na harmonia, e aconchego, mas também nos limites e fracassos, que os filhos experimentem a alegria da proximidade de Deus através dos pais. A experiência cristã positiva, vivida no ambiente familiar, é uma marca decisiva para a vida do cristão.”( CNBB. Diretório nacional de catequese, nº 238) Os pais são símbolos que revelam Deus, sua ternura, amor e paternidade. Eles se tornaram responsáveis de ensinarem a catequese aos filhos, mas precisam antes passarem por uma experiência e amadurecimento na fé.
Os pais cristãos são os primeiros responsáveis pela vida de fé dos filhos, como também na esperança e no amor. Em meio às crises e dificuldades próprias pelas quais passam a família é necessário uma nova postura da Igreja.
O processo de iniciação deve ser integrado à vida da família, mas requer, acima de tudo, que os membros dela dêem testemunho de vida, união, cooperação, participação e alimentação, criando um ambiente de fé, esperança e amor. A família sempre foi um lugar privilegiado para que se transmita a fé. “Na família cristã, em seu esforço de ser Igreja doméstica, somos chamados à primeira experiência de comunhão na fé, no amor e no serviço ao próximo.” (CNBB. Catequese renovada: orientações e conteúdo.)
Neste itinerário é importante que se dedique mais tempo às famílias, ajudando-as a crescer nas relações de amizade e solidariedade. É preciso que a família seja bem amparada e orientada nas comunidades eclesiais. Deve-se criar cada vez mais a atitude de cultivo da vida cristã em família, mediante a oração diária com os filhos, a leitura da Palavra de Deus e o bom exemplo de uma vida reta. O papa João Paulo II em sua Exortação Apostólica Catechesi Tradendae afirmou que “a educação para a fé, feita pelos pais — a começar desde a mais tenra idade das crianças— já se realiza quando os membros de determinada família se ajudam uns aos outros a crescer na fé, graças ao próprio testemunho de vida cristã muitas vezes silencioso, mas perseverante, no desenrolar da vida de todos os dias, vivida segundo o Evangelho”. O trabalho evangelizador pode e precisa ser feito em família, só dessa forma constituirá cristão iniciados na fé, conscientes da graça que receberam e ávidos em cultivá-la em sua prática cotidiana.
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