O
vazio existencial se tornou na contemporaneidade o grande desafio que o homem
deve enfrentar. Na tentativa de não
experimentá-lo o homem pós-moderno busca camuflá-lo no consumismo, no
imediatismo, no hedonismo e no individualismo. Neste universo, a existência
humana é marcada pelas expressões do presente. É a partir dele que se deve “encher”
a vida de sentido sob várias formas e
maneiras. Assim, sendo a morte se torna o último e o grande obstáculo, pois ela
representa o cessamento da busca e do preenchimento de sentidos. Porém, a morte
não é o fim de tudo, ela não é a má sorte das esperanças humanas ou uma
libertação do fardo existencial que é a vida. Diante do peso da existência não
basta simplesmente “sobreviver” sob o peso das incertezas, dos medos e das
inseguranças; mas é preciso que viva uma vida carregada de sentido.
Como encarar a presença de outros,
que marca e contribui para encher a vida de sentido? Mas e quando a realidade
nos encurrala e não se é capaz de oferecer um sentido para a vida? Como diz o
adágio popular: “quando já não se encontra gosto em viver”? Como seguir em
frente diante das circunstâncias injustas e dolorosas? Nestes momentos cresce o
sentimento de vazio, de incapacidade de lidar e de suportar o peso da
existência e da condução da vida. É-se invadido pela impotência, pela
desolação, pelo desânimo e pela tristeza. Passa-se a acreditar que o tudo na
verdade é o nada. O vazio grita aos ouvidos e perturba radicalmente o rumo da
vida.
Podemos e devemos encher a vida de
sentido, porém sozinho nunca se consegue. É preciso a presença de Alguém.
Diante da dor, do mal, da angústia e
até da morte, Cristo experimentou a dimensão humana de depender de um Outro, ou
seja, do Pai, de Deus. Mas, em que a atitude de Jesus faz diferença? No momento
mais terrível, da agonia, Ele pediu que a cruz lhe fosse poupada (Lc 22, 41-44).
Em Cristo vê-se claramente que a vida não é a última instância, o último fôlego
de existência (2 Cor 5,17). Mas, a existência humana se estende para além e vai
ao encontro do Pai.
Para esperar, nos diz Bento XVI, “o
ser humano necessita do amor incondicionado. Precisa daquela certeza que o faz
exclamar: ‘nem a morte, nem a vida (...) poderá separar-nos do amor de Deus que
está em Cristo Jesus’ (Rm 8, 38-39). Se existe esse amor absoluto com sua
certeza absoluta, então – e somente então – o homem está ‘redimido’,
independentemente do que lhe possa acontecer naquela circunstância” (Spe Salvi,
26).
Somente a presença de Cristo é capaz
de dar sentido à dor e à injustiça. “O
melhor lugar para nos encontrarmos com o Senhor é a nossa própria fraqueza.
Encontramos bem Jesus nos nossos pecados, nas nossas culpas, nos nossos erros”,
lembrou-nos o papa Francisco na Quaresma de 2014. É preciso deixar Cristo habitar
nas fraquezas humanas porque Ele bate na porta de nossos corações todos os
dias, basta que se abra e deixa Jesus entrar nos corações e fazer morada, pois
“sabemos que todas as coisas concorrem para o bem dos que amam a Deus, dos que
são chamados de acordo com sua vontade” (Rm 8, 28).