Geraldo Trindade
Bacharel em Filosofia pela FAM,
mantém o blog: http://www.pensarparalelo.blogspot.com/
Aproximando a Festa do Milho na cidade de Cipotânea, que terá neste ano de 2011 sua 29ª edição convido-os a se deter sobre o artesanato como fonte de sobrevivência para muitos, que lá vivem.
A atividade artesanal é muito antiga, há pelo menos meio milhão de anos o homem já fazia uso do fogo e sabia fabricar instrumentos.
No Brasil, nos primeiros anos de colonização foram instaladas oficinas artesanais , onde os artesãos tiveram o ensejo de desenvolverem suas habilidades. Através da Carta Régia de José I destruiu-se as oficinas e os artesãos são declarados fora da lei. Maria I seguiu a mesma atitude e perseguiu todas as formas artesanais do Brasil. Esta situação só se reverteu com a carta régia do príncipe Dom João em 1808, que anulou os alvarás proibidos de sua mãe e autorizou a atividade industrial caseira.
Inicialmente o que caracteriza o artesanato é a transformação da matéria-prima em objetos úteis, por meio de tradição familiar ou comunitária. O artesão é que faz esses objetos, ele utiliza da inteligência e de sua capacidade de criar e inovar, estabelecendo uma ligação inovadora entre o passado e o presente, possibilitando as gerações posteriores terem acesso a técnicas e experiências acumuladas no passado.
O artesanato é eminentemente uma manifestação comunitária. Em um primeiro momento os objetos produzidos têm uma função utilitária para o próprio artesão. Ele é também prático, pois surge da necessidade, além de sua aprendizagem se dar pela imitação, ou seja, vendo-se trabalhar.
O artesanato abrange valores importantes em nossa sociedade: social, possibilitando melhores condições de vida aos artesãos e funciona como elemento de equilíbrio social; artístico porque cada peça feita a mão é única, não se confunde com outra, mas é criada a partir da criatividade criadora do artesão-artista; pedagógico, possibilitando meios para a educação; moral, já que propicia ao aperfeiçoamento espiritual e moral do artesão, afastando de vícios e delinqüências; terapêutico, pois abranda a hostilidade e a personalidade agitada ou outros desvios; cultural porque por meio da peça têm-se traços da cultura, das tradições, dos símbolos, das crenças; e, psicológico, já que o artesão se sente valorizado com sua arte porque faz objetos que têm serventia.
Em Cipotânea o artesanato remete à figura do Pe. José Geraldo das Mercês, que se tornou pároco da referida cidade em 1939. Homem simples, alto, batina velha e gestos simples, de cabelos despenteados, mas com um largo e simpático sorriso estampado no rosto. Conhecida é a história de um mendigo, que ao pedir-lhe uma esmola, recebe deste a bolsa de dinheiro, mas que estava desprovida sem nem mesmo o padre saber. O pobre senhor, vendo a situação, tirou o pouco que tinha e depositou na bolsa. O padre sem saber, recebe a bolsa e sai satisfeito.
Além das lições de humildade e pobreza vividas por Pe. José Geraldo e que ficaram gravadas na memória dos cipotaneanos, seu ministério enriqueceu a cidade em outros aspectos, dentre eles: o artesanato e a devoção à São Caetano.
O sacerdote observara que o trabalho artesanal com a palha do milho efetuado naquela época somente por mulheres garantia um aumento na renda familiar. Porém, cada cesta era vendida por uma bagatela. No entanto, hoje as peças são vendidas baratas, favorecendo mais o atravessador. Padre José Geraldo chegava até mesmo a comprar o artesanato para estimular a confecção daquilo que muito tempo depois seria a salvação rentável de muitas famílias cipotaneanas.
A outra obra há ser ressaltada é a devoção à São Caetano, que Pe. José Geraldo admirava e conhecera a fundo por meio do estudo da biografia do santo da Divina Providência. Dia 7 de agosto está marcado no imaginário de todo cipotaneano de nascimento ou de coração.