quinta-feira, 22 de maio de 2014

É possível viver a fé no ambiente virtual?

Geraldo Trindade


Cada dia mais a internet com suas ferramentas e opções estão presentes na vida das pessoas. Ela nasceu de uma experiência militar norte-americana com a finalidade de conectar computadores em diversas partes do mundo. A partir de então, estendeu-se até às universidades e de lá para o planeta e o cotidiano das pessoas. Por meio do ambiente virtual está-se presente em toda parte do planeta, comunica-se, divulga-se cultura, conhecimento, pensamento religioso...  
            Como inserir a mensagem do Evangelho neste universo? E a experiência de fé? E a realidade comunitária-eclesial?
            Não basta ser simplista e pensar em “entrar” neste mundo digital; é preciso refletir em como “estar” nele.
            A Igreja encara os meios de comunicação como dons de Deus, capazes de criar laços entre as pessoas, além de desempenharem um papel social na sociedade e na história. É impossível não perceber a importância e a centralidade que os meios de comunicação social conquistaram em nossa sociedade!
            Cristo revelou-se na história e operou nela a salvação. Ele é a “grande comunicação” do Pai com o mundo. Desde então, a Igreja é desta preciosa dádiva, guardiã e portadora. Ela guarda a fé; mas também é comunicadora deste depósito. Por isso, a comunicação pertence à essência da Igreja. No dizer do santo João Paulo II, as novas mídias são como “o primeiro areópago dos tempos modernos”. Mesmo que estes meios de comunicação pareçam separados da mensagem cristã, eles oferecem oportunidades únicas para o anúncio do amor e da salvação de Cristo.
            A nossa Igreja Católica cada vez mais se insere no mundo digital, por meio de sites, blogs, vídeos, redes sociais, palestras, músicas, aplicativos... Tudo isso faz parte da obra de evangelização e enriquece a vida da Igreja, pois ela precisa dialogar com o sujeito de nosso tempo. Trata-se de comunicar a fé com novas expressões e de maneiras atuais, mas a verdade da fé é a mesma: o anúncio da Boa Nova de Jesus Cristo por meio da proclamação do Evangelho e do testemunho.
            Em um mundo indiferente e até hostil à fé cristã, à Jesus Cristo e ao Evangelho é preciso nutrir um desejo ardente de comunicar, de evangelizar no mundo real e virtual. O Evangelho é uma mensagem globalizada e o cristianismo, as verdades da fé estão abertas a todas as pessoas e culturas. Um homem pós-moderno, vazio, materialista e carente só encontrará razão de viver e de ser em Cristo Jesus. São mais de 6 bilhões de seres humanos. Destes, 33% não ouviram falar de Jesus. Por isso é importante que se lance mão da internet de maneira criativa para que se assuma as responsabilidades de nossa fé e ajudemos a Igreja a cumprir com sua missão.
No dia 1 de junho comemora-se o dia mundial das comunicações sociais com o tema: “Comunicação ao serviço de uma autêntica cultura do encontro”. O papa Francisco convida a criar proximidade, união, solidariedade e encontro por meio das oportunidades que os meios de comunicação favorecem. A conquista da comunicação deve ser mais humana do que tecnológica. O convite do papa é que se abra as portas da Igreja no mundo digital para que o Evangelho cruze as paredes do templo e vá ao encontro de todos. Ele nos convida a refletir: “Somos chamados a testemunhar uma Igreja que seja casa de todos. Seremos nós capazes de comunicar o rosto duma Igreja assim?” As redes sociais e a internet de modo geral são lugares onde se pode viver a vocação missionária da Igreja, de redescobrir a beleza da fé e a beleza do encontro com Cristo. É preciso nos encantar por uma Igreja que consiga levar calor e inflamar o coração, “uma igreja companheira de estrada, que sabe pôr-se a caminho com todos.”
            O diálogo entre a Igreja e o mundo favorece que ela informe sobre o seu credo, explique as razões de sua fé e eduque catequeticamente melhor. A internet é, por isso, uma porta maravilhosa e fascinante, que usada de forma segura, sadia e verdadeira é capaz de promover um novo anúncio de Jesus, de tal maneira que cada vez mais, ouça-se falar do amor que Deus nos comunicou em Seu Filho, Jesus Cristo.
            Porém, a realidade virtual não substitui a presença real de Cristo na Eucaristia, a comunidade, os sacramentos, a liturgia, a proclamação imediata e direta do Evangelho. Mas, os novos meios de comunicação podem completar, atraindo as pessoas para uma experiência mais integral da fé e enriquecendo a vida religiosa e catecumenal.       



quarta-feira, 14 de maio de 2014

Ela é nossa mãe!


La Nostra Mamma! Ela é nossa Mãe! Estas foram as palavras que Pe. Pio de Pietrelcina disse há dois frades que tinham indo pedir a ele, para dar uma palavra sobre Nossa Senhora; depois de alguns instantes os frades começaram a chorar com a forma que Pe. Pio falava de Maria.

Bem, se de fato essas palavras forem profundamente pronunciadas e respectivamente acolhidas no coração, elas podem nos causar vários efeitos interiores e exteriores até mesmo chorar de amor pela Virgem Maria, pois foi isso que aconteceu com os dois frades, soluçavam e choravam, porém choravam por que estavam aprendendo com Pe. Pio a amar Nossa Senhora.

A Virgem Maria deveria e deve ser mais conhecida e amada. Como não ter para si uma Mãe que o próprio Jesus nos deu e ele também a quis como mãe? Como não honrar Maria se o próprio Jesus a honrou? Infeliz daquele que não ama Nossa Senhora, pode até não perceber a infelicidade, mas a tem. Não tenhamos medo de amar nossa mãe Maria, ela não nos afasta de Deus, pelo contrário, ela nos aproxima cada vez mais de Deus; costumo dizer que: “ao lado de Maria, estamos mais próximo do céu e ao mesmo tempo mais próximo de Deus, por que ela é a porta do Céu e Mãe de Deus.”

Quando nos consagramos perfeitamente a Jesus pelas mãos de Maria, renovando as promessas do nosso batismo; Maria nos entrega totalmente e imediatamente a Jesus, Maria gera em nós o Cristo. Tantos santos tiveram Maria como via espiritual de perfeição, caminho seguro parasse chegar a Deus, exemplo disso foi São João Paulo II, que se entregou todo a ela tendo como lema: “Totus Tuus Mariae” Todo Teu Maria.

Mãe que é Mãe cuida, pois bem! Maria cuida de nós, ela estar a todo instante do nosso lado, nos auxiliando nas dificuldades: “Pedi à mãe que o Filho atende.” “Como é bom está no colo de nossa mãe aqui da terra, e bem melhor é está no colo de nossa mãe do céu; ser cuidado por ela, tê-la nos fazendo carinho e nos protegendo.”.

Repito: Não tenhamos medo de amar Maria, não se arrependerá se isso o fizer. Deixe que ela o guie para Jesus, para o céu, para à santidade. “Nunca será um exagero honrar Maria, nunca será um exagero amar Maria, por que nunca conseguiremos ama-la tanto como Jesus a amou.” Nossa Senhora possui um papel determinante na salvação da humanidade, ensina a Igreja.

Por fim, rezemos está Ave Maria nos consagrando a Santíssima Virgem: Ave Maria cheia de graça, o Senhor é convosco, bendita sois Vós entre as mulheres, e bendito é o fruto do vosso ventre, Jesus. Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós pecadores, agora e na hora da nossa morte. Amém.

Iury Nascimento

Seminarista da Arquidiocese de Fortaleza

sábado, 29 de março de 2014

João XXIII e João Paulo II: bondade e misericórdia de Deus para a Igreja

Geraldo Trindade


Dia 27 de abril de 2014, Festa da Divina Misericórdia, o Senhor reserva à sua Igreja Santa, Católica, Apostólica e Romana um mimo de sua infinita bondade: a canonização, ou seja, passam a ser santos dois papas, João XXIII, o papa bom e João Paulo II, o papa pop. O primeiro trouxe ao trono de Pedro a humildade e a proximidade com o povo; o segundo rejuvenesceu a Sé apostólica com seu carisma e seu poder de sedução junto às multidões.
            Bento XVI dispensou os 5 anos necessários após a morte para abrir o processo de canonização de João Paulo. Francisco inovou ao suspender a necessidade de mais um milagre para a canonização de João XXIII. Ambos pontíficies beatos, que em breve serão incluídos na lista dos santos da Igreja Católica têm duas realidades que os marcam: o Concílio Vaticano II e a Igreja. O concílio marcou a vida e o ministério de ambos, pois foi o maior evento eclesial no século XX, propiciou que a caridade e a paz se concretizassem na vida da Igreja, que é mãe generosa e cuidadosa, que se faz próxima dos homens e mulheres consolando, ajudando e sustentando na esperança. João é o papa bom, pai de toda a humanidade, ele a abraçava e a abençoava. João Paulo visitando o mundo inteiro, fez-se o mensageiro da paz e promotor da vida, da fraternidade entre os povos e acolhedor dos necessitados. Ambos são santos, pois consistiram em viver a vida boa do Evangelho nas situações mais diversificadas que a Providência divina os colocava.
            O papa João XXIII  foi eleito no dia 28 de outubro de 1958. Por sua idade foi tomado como um papa de transição, mas surpreendeu o mundo com a convocação para o Concílio Vaticano II (1962-1965) e propiciou para que se vivesse em uma Igreja aberta ao mundo. João Paulo II foi eleito em 1978 e foi o primeiro papa não italiano em 456 anos. Entrou para a história pelo seu carisma e pelas viagens que fez aos quatro cantos do mundo encontrando com diversas pessoas e comunidades. Foi um grande missionário, um evangelizador universal, comunicador, fecundo no apostolado da palavra e dos seus escritos.
            A Igreja vive destas grandes riquezas e heranças, da simplicidade do papa bom, João XXIII, e do papa misericordioso e sofredor, João Paulo II. A ação do Espírito Santo na Igreja é atuante constante em todos os momentos e lugares. Vemos verdadeiramente que a Igreja é antes de tudo a comunidade daqueles que são chamados à santidade e se empenha em cada dia para alcançá-la. Seguindo as pegadas destes dois grandes homens saberemos que nos encaminharemos em direção a Jesus Cristo. Ele que é o Pai das Misericórdias forja nos corações simples de várias pessoas o molde da santidade, planta ali sua semente de vida nova, transformando-as em corajosas testemunhas do amor de Deus em sua vida, que se estende a todas as pessoas.
            A Igreja com esta atitude de canonizar estes grandes homens canoniza seus estilos de vida, suas virtudes heróicas, pois ambos são apresentados como modelos de vida a serviço da Igreja e de Deus, foram em seu tempo instrumentos da ação do Espírito Santo. No ato de elevá-los à honra dos altares, o papa Francisco mostra-nos caminhos de santidade de duas pessoas que souberam colocar-se à altura dos momentos e servir a Igreja, que é a Igreja de Cristo Jesus. Abre-se para todos os cristãos a partir de João XXIII e João Paulo II os caminhos da santidade, da simplicidade, da bondade e da misericórdia.





  

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Refletindo a Campanha da Fraternidade 2014

Geraldo Trindade



Este ano a Igreja Católica no Brasil no tempo da Quaresma; que convida à conversão, oração e reflexão; desenvolverá a Campanha da Fraternidade, que trará como tema: Fraternidade e tráfico humano e o lema: “É para a liberdade que Cristo nos libertou” (Gl 5,1).
            Mais de 200 anos após o 13 de maio que extinguiu com a escravidão no Brasil, milhões de pessoas continuam sendo tratadas como mercadorias, passíveis de serem vendidas, compradas e exploradas.
            A ONU por meio do protocolo de Palermo (2003) define o tráfico de pessoas como “o recrutamento, o transporte, a transferência, o alojamento ou o acolhimento de pessoas, recorrendo-se à ameaça ou ao uso da força ou a outras formas de coração, ao rapto, à fraude, ao engano, ao abuso de autoridade ou à situação de vulnerabilidade ou à entrega ou aceitação de pagamentos ou benefícios para obter consentimento de uma pessoa que tenha  autoridade sobre outra para fins de exploração”.
            As vítimas do tráfico humano são retiradas de seu ambiente, de seu país ou cidade e passa a ter sua mobilidade reduzida; pois são usadas para a exploração sexual ou de trabalho. Outros meios para o aliciamento das pessoas são as propostas de trabalho na agricultura, pecuária, comércio, construção civil ou oficinas de costura.
            A pessoa humana criada por Deus (Gn 1, 26-27), vista como fruto querido e amado da criação divina, deixa de ser sujeito capaz de liberdade e passa a ser tratada como objeto, um produto, uma mercadoria, que se vende, troca, transporta e explora. O tráfico humano e a exploração buscam privar a pessoa da sua dignidade, da sua liberdade e capacidade de orientar sua vida. O reconhecimento da filiação divina possibilita que, por Jesus cristo, todos são dignos de ter sua vida respeitada. Dessa forma, tudo o que vai contra a vida também vai contra o projeto do Reino de Deus, realidade onde “justiça e paz se abraçarão” (Sl 85,11), pois o Senhor é o Deus que liberta e salva os oprimidos, liberta das algemas da opressão; pois leva ao cumprimento pleno o plano salvífico de Deus (Lc 4, 14-21).
            No Brasil, mais de 25 mil pessoas prestam serviços presas em fazendas, garimpos e carvoarias. De 1995 a 2008 cerca de 33750 foram libertadas do trabalho escravo. Em 21 estados da federação já foram encontrados trabalhos escravos. No ano de 2000 foi desmantelada uma rede de tráfico humano para a venda de órgãos que ligava o Pernambuco e a África do Sul. Em 2004, o Ministério Público denunciou 28 pessoas por este crime. A comercialização de 30 órgãos movimentou 4, 5 milhões de dólares neste esquema criminoso. Há ainda o tráfico interno de pessoas no Brasil para o trabalho em situações ilegais e subumanas. O nosso país, infelizmente, é também importador de mão de obra dos países vizinhos, principalmente da Bolívia, do Peru, do Paraguai, do Haiti e da Colômbia.
            No âmbito internacional, das 2,5 milhões de pessoas traficadas, 43% são para a exploração sexual, 32% para a exploração econômica e 25% para os dois ao mesmo tempo.
            O tráfico humano está diretamente associado ao modelo de desenvolvimento presente na economia, pois a competitividade e o desejo de lucro pressiona para que se reduza os gastos do trabalho, a “flexibilizar” as leis trabalhistas para que o produto final chegue a um preço mais baixo e gere um consumo maior. Porém, tais mercadorias, que alimentam a sede de lucro vem da exploração escrava de homens, mulheres e crianças; que têm sua liberdade cerceada, seus planos e projetos desfeitos, seus laços afetivos relegados ao esquecimento.
            Esta Campanha da Fraternidade favorece-nos em gestos concretos claros e pertinentes:
- estar atento para perceber pessoas que aliciam outras para o trabalho e atividades que não respeitam as leis trabalhistas e denunciá-las;
- buscar em nossas relações trabalhistas pautar pela justiça e honestidade para com as leis trabalhistas e os direitos dos trabalhadores;
- dar prioridade à compra de mercadorias de lugares e regiões que não utilizem de mão de obra explorada desrespeitando os direitos dos trabalhadores;
- educar-se para a vida de liberdade, reconhecendo-se como filhos e filhas de Deus, criados em dignidade e amor.

            A fé cristã favorece que cada cristão se reconheça construtor de um mundo novo, onde o Evangelho encontre acolhida nas estruturas sociais e nos corações humanos; onde a Vida em plenitude seja a meta concreta de uma vida imersa em Cristo. Em Jesus somos plenamente livres, a Lei do Amor deve ser vivida plenamente, sem diferenciações, à ponto que se possa afirmar que “já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim”(Gl 2,20); pois sabemos que o Amor nos criou e se entregou de forma plena e radical na cruz. Assim, ninguém tem a capacidade e o poder de inibir a liberdade do outro, pois “todos são filhos de Deus pela fé em Jesus Cristo” (Gl 3, 26).