segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Eu, rede social


Geraldo Trindade

            Nas últimas semanas duas notícias tornaram-se alarmantes, pois trouxeram à tona a realidade existencial de milhões de adolescentes e jovens. Uma jovem se suicida no Piauí quando tem um vídeo privado divulgado e difundido entre celulares; o outro fato é o suicídio de uma jovem mexicana. O que há em comum é que ambas jovens anunciaram suas mortes em redes sociais, onde receberam centenas de curtidas e comentários.
            A pergunta é: por que tal ação? O que leva jovens ao suicídio?
            Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), o suicídio juvenil  é a terceira causa de morte entre pessoas de 15 a 44 anos e o suicídio anunciado por meio das redes sociais tem crescido em muitos países.
            Hoje o dia-a-dia das pessoas exige uma velocidade muito maior do que há anos atrás, os relacionamentos presenciais foram sendo substituídos pelos virtuais, desencadeando um afastamento do mundo real. A era da informação e da tecnologia está lançada! O íntimo, que não era para ser exposto, mas sim preservado, pois é uma instância de segredo, de ser “dono de si mesmo” está sendo substituído por uma compulsão pela exposição de si nas revistas e nas redes sociais. Na maioria das vezes essa hiperexposição é o sintoma da angústia do vazio.
            É indiscutível o papel desempenhado pelas redes sociais no âmbito da vida privada, social, política, comunicacional e profissional. Elas favorecem a interação entre as pessoas. Dão visibilidade, facilitam a comunicação, o reencontro, eliminam as extensões territoriais; além de ter um poder ainda incalculável de convocação e mobilização. As mudanças provocadas pelas redes sociais não são para o futuro, pois elas são presente e intervém significativamente no comportamento das pessoas. A inclusão e a participação nas redes sociais dá a sensação de ter muitos amigos, de estar antenado e conectado aos acontecimentos com uma participação efetiva e eficiente. Tudo isso é uma verdade em termos, pois essas conexões e realidades são raseiras e instáveis, os relacionamentos superficiais e temporários e os vínculos momentâneos.
            Na “vida” das redes sociais a busca de novidades é o interesse geral. Os comentários que importam são os seus, enquanto que os dos outros servem para que se possa expressar a opinião individual. A imagem que os outros têm é essencial e a aceitação também. Daí a exposição com fotos, informações de viagens, atividades, emoções e sentimentos. É a sensação de ser querido e bem aceito pelas curtidas e comentários na foto escolhida a dedo dentre as infinidades de álbuns. Há uma disputa de quem aparenta levar uma vida mais bacana, mais interessante e mais feliz. Quando se posta uma foto, a pessoa revela um fragmento daquilo que se deseja que os outros definam e aceitem.
            Cada um busca ser mais brilhante, interessante e atraente do que o outro. Nesta empreitada muitos são os seguidores e “amigos”, mas os usuários mais sensatos sabem que são poucos aqueles com os quais se podem contar. O resultado de tudo isso é frustração, solidão e incapacidade de lidar com seus próprios sentimentos.
            O nível de suicídio entre os jovens revela que não se está preparado para lidar com as frustrações em meio ao narcisismo da cultura e da mentalidade de que somos sempre o centro do universo e da realidade. A pobreza da vida interior presente no coração das pessoas não encontrará a solução por meio da tecnologia e da posse de bens materiais.
            A solidão no século 21 bate à porta de inúmeras pessoas cercadas de “amigos” virtuais. Ao mesmo tempo que os comentários em um post estimulam, são eles também capazes de levar a pessoa à frustração e à necessidade de exposição sem limites, a fim de encontrar nos milhares de usuários virtuais a aceitação que nem a própria pessoa tem dela. Gera-se a angústia, a ansiedade, as frustrações, invejas, raivas, alegrias e curiosidades pelos feedbacks.

            Neste emaranhado de relações nas redes sociais deve-se ir além das superficialidades que elas podem oferecer. As relações virtuais e superficiais não podem ser capazes de substituir as reais. O imediatismo do contato pela rede não ultrapassa a grandeza do relacionamento de cada dia reconhecer no outro suas riquezas, tesouros e dons, de forma pessoal. O verdadeiro tesouro dos relacionamentos não está na quantidade, mas o quanto fundo se vai, lançando mutuamente na relação o seu eu na verdadeira recíproca do descobrir e desvelar no rosto do outro um amigo e uma amiga.

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

ANO DA FÉ: término ou início?





Geraldo Trindade

            O Ano da Fé convocado por Bento XVI teve início no dia 11 de outubro de 2012, mesmo dia em que há 50 anos se celebrava a abertura do Concílio Vaticano II. Destacou-se, dessa forma, que o Concílio e seus desdobramentos giram em torno do anúncio ao homem de hoje sobre Deus e da importância da fé para sua vida. No fim deste ano tão especial fica claro que foi uma ocasião única para reavivar a fé dos católicos e animá-los no espírito de uma evangelização mais convicta.
            A Igreja não é uma realidade estática e à parte do mundo que a cerca. Daí a necessidade de compreender o Vaticano II como um evento carregado de esperança no intuito de favorecer o anúncio do Evangelho de Cristo. A Igreja renova ininterruptamente a Sua fé no Senhor Jesus. A fé, que a Igreja é depositária e guardiã, é uma abertura ao amor de Cristo! Ela alarga o “eu” a uma dimensão de “nós” e do “humano” ao “divino”.
            No dia 24 de novembro, Solenidade de Cristo Rei do Universo, se dará o encerramento do Ano da Fé pelo papa Francisco. Neste período muito foi feito e promovido: esforço em valorizar a fé, conhecendo-a, aprofundando-a e vivendo-a com mais intensidade; aprofundamento nos documentos conciliares; valorização do Catecismo da Igreja Católica, o seu estudo como oportunidade de aprofundamento da fé e torná-la consciente e firme; ações para a transmissão da fé; renovação missionária da Igreja em nível local e paroquial; o fortalecimento da fé, em meio às adversidades, pelo testemunho cristão...
            Encerra-se o Ano da Fé, mas o esforço empreendido se perpetua. A fé, após este ano, deve sair mais robusta, mais esclarecida, mais capaz de dar testemunho e de experimentar a confiança no Senhor. Conhecer, viver e transmitir a fé são compromissos irrenunciáveis do batismo e devem ser assumidos no findar deste ano. Os esforços não se esgotam em um tempo determinado, mas traduzem a missão perene da Igreja: viver da fé professada, vivida e celebrada em Jesus Cristo.
            Por isso, o itinerário proposto pelo papa emérito na Carta Apostólica Porta Fidei (PF) e levado adiante pelo Francisco continua atual, necessário e enriquecedor para a fé e a Igreja. A fé é um meio para um acesso exclusivo à intimidade profunda com Deus (PF 1). No itinerário de fé é preciso que se ajude os outros a atravessarem o deserto e encontrem Cristo, fonte que sacia todas as sedes (PF 2). Destaque neste itinerário é a Palavra de Deus e a Eucaristia. “Devemos readquirir o gosto de nos alimentarmos da Palavra de Deus, transmitida fielmente pela Igreja, e do Pão da vida, oferecidos como sustento de quanto são seus discípulos (cf. Jo 6, 51)” (PF 3).
            É preciso que cada fiel experimente e testemunhe o amor de Deus, pois “os cristãos são chamados a fazer brilhar, com a sua própria vida no mundo, a Palavra de verdade que o Senhor Jesus nos deixou” (PF 6). É necessário reacender a chama da fé por meio da conversão constante ao Senhor da vida, do coração e das ações pastorais (PF 6). Neste processo metanoico a fé cresce e se fortalece quando se abandona progressivamente no amor de Deus (PF 7).

            Outros dois pilares que se deve valorizar são o valor da profissão de fé (PF 9) e o estudo do catecismo (PF 11); como também a vivência e o testemunho da caridade (PF 14). Assim, o Ano da Fé não encontra seu término no plano espiritual, mas se constituirá, para além da data oficial do programa da Igreja, uma disposição de vida espiritual rico e inesgotável para crescer na fé e no amor a Igreja e, acima de tudo, a Cristo (PF 15).

domingo, 3 de novembro de 2013

E, agora, jovem?!

Geraldo Trindade




            O ano de 2013 foi singular na vida da Igreja Católica no Brasil, pela escolha da juventude como sua prioridade. A CNBB escolheu como tema da Campanha da Fraternidade a juventude, o Rio de Janeiro sediou a Jornada Mundial da Juventude.  Transpareceu que a Igreja Católica quer respirar com os jovens, caminhar com eles, sonhar seus sonhos, lutar suas lutas...
            A peregrinação da cruz e do ícone de Nossa Senhora pelas comunidades em nosso país favoreceu com que a presença da Igreja, que tem com missão comunicar Cristo, estivesse junto às mais variadas realidades: educacionais, de sofrimento, exclusão, de trabalho, de oração, caminhada, reflexão, celebrações, adoração...
            A JMJ marcou vivamente a memória de todos os que lá estiveram ou acompanharam pelos meios de comunicação. Em torno do sucessor de Pedro, Francisco, que tem como missão confirmar na fé, os jovens puderam renovar seu compromisso com a humanidade e com Jesus Cristo, atendendo o Seu convite: “Ide e fazei discípulos entre todas as nações”.
            Muitos bons propósitos, planos, projetos e iniciativas surgiram a partir das vivências desses momentos e de inúmeros outros. Passado o tempo de empolgação inicial, é hora de verificarmos as chamas que ainda fumegam, de planos e iniciativas, que não estão apenas ancorados em nós mesmos, mas no fundamento, que é Cristo e no desejo de segui-Lo. Porém, a relação do jovem com a Igreja passa, necessariamente, pelos ministros sagrados, consagrados, passa pelas nossas paróquias, pastorais e movimentos. Será que todos esses agentes têm também se ocupado com os jovens? Estão eles comunicando e proporcionando uma experiência de Deus? A juventude tem sido prioridade pastoral em vários planos, mas tem se constituído em ação de oportunidade, escuta, participação dos jovens como força ativa em nossas comunidades?
            Não pode ser permitido aos jovens a apatia diante da fé, do projeto de Jesus Cristo, da vida social do nosso país e das realidades mais desafiadoras e excludentes! É preciso que os jovens saibam viver, buscando os mais altos valores, os projetos mais audaciosos, os sonhos mais preciosos... Viver é pouco se se não coloca razão no dia-a-dia da vida, dando sentido a partir de uma meta de vida. O que muda a história é o que, antes, muda o coração humano. Nada melhor do que deixarmos enquanto batizados, que seja Cristo capaz de nos encantar com sua vida, seus gestos e posturas. Não podemos considerar Jesus totalmente conhecido e apreendido por nossa razão e sentimentos, é sempre uma novidade que deve nos questionar e nos encantar.

            “ Ide, sem medo, para servir. Seguindo estas três palavras, vocês experimentarão que quem evangeliza é evangelizado, quem transmite a alegria da fé, recebe mais alegria. Queridos jovens, regressando às suas casas, não tenham medo de ser generosos com Cristo, de testemunhar o seu Evangelho.  Deus envia o profeta Jeremias, lhe dá o poder de ‘extirpar e destruir, devastar e derrubar, construir e plantar’ (Jr 1,10). E assim é também para vocês. Levar o Evangelho é levar a força de Deus, para extirpar e destruir o mal e a violência; para devastar e derrubar as barreiras do egoísmo, da intolerância e do ódio; para construir um mundo novo.” (Papa Francisco).

terça-feira, 8 de outubro de 2013

Catedral de Mariana, 300 anos de evangelização



Geraldo Trindade

Neste ano de 2013, a arquidiocese de Mariana festeja os 300 anos de edificação de sua catedral metropolitana Nossa Senhora da Assunção. A celebração se dá pela importância, pois é uma das primeiras catedrais no interior do Brasil, fazendo com que a evangelização, que se iniciou no litoral do país, estendesse para o interior, atingindo uma maior extensão territorial e populacional.
            A diocese de Mariana foi criada em 1745 pelo papa Bento XIV no dia 6 de dezembro de 1745 pela bula Candor lucis aeternae por Bento XIV, desmebrando-a da então diocese de São Sebastião do Rio de Janeiro. A igreja escolhida para se tornar catedral da nova diocese foi a capela da beata Virgem Maria do Monte Carmelo. Depois com a elevação da capela à matriz, ela foi dedicada a Nossa Senhora da Conceição. A construção deste templo se deu na administração do governador Antônio Francisco de Albuquerque. Não se sabe, porém, a data específica da finalização da obra; mas o período de construção compreende os anos de 1713 a 1760, que é a data em que se acredita o término da construção como está atualmente.
            Com a criação da nova diocese em território mineiro, foi elevada à categoria de cidade a vila e a catedral à matriz, agora dedicada a Nossa Senhora da Assunção. Essa mudança de padroeira remete a uma tradição luso-brasileira em que a maioria das matrizes era dedicada a Nossa Senhora da Conceição e as catedrais a Nossa Senhora da Assunção.
            A catedral sofreu várias intervenções artísticas e arquitetônicas desde a posse do primeiro bispo, dom Frei Manoel da Cruz, como a colocação do forro, pintura interior, construção da capela do Santíssimo, assentamento do órgão Arp Schnitger em 1753 doado pelo rei Dom José I. Em 1º de maio de 1906 a diocese de Mariana é elevada à Arquidiocese e Sé Metropolitana pelo papa Pio X por meio da bula Sempiternan Humani Generis. Em 1961 a Catedral é elevada à categoria de Basílica menor. A construção da cripta, onde estão sepultados os restos mortais dos bispos e arcebispos marianenses se deu no ano de 1963 e neste mesmo ano foi sagrado o seu altar no dia 16 de julho.
            A Sé Catedral de Mariana tem seu traçado arquitetônico externo bastante simples, o que contrasta com a exuberância de seu interior, marcado por um rico douramento e policromia. Possui uma nave central e duas laterais separadas pelas arcadas, provocando uma sensação de solidez. A leve inclinação das paredes da nave central dá a impressão de grandiosidade. As laterais são formadas por 10 altares de diferentes estilos e o caideral do cabido enfeitado com paisagens chinesas.
            Outros destaques são o tapa-vento, na entrada, de Francisco Vieira Servas, a pia batismal em pedra, cuja tampa também foi esculpida por Servas e o painel representando o batismo de Cristo que tem como autor Manoel da Costa Athaide.
            Além desses aspectos artísticos e arquitetônicos, a celebração dos 300 anos da catedral, que ocorrerá entre os dias 21 a 26 de outubro, contará com a presença do núncio apostólico no Brasil, Dom Giovanni d’Aniello no dia 24. A celebração quer marcar o grande passo dado neste período de tempo por meio do anúncio e da pregação do Evangelho no estado de Minas Gerais e em todo o Brasil. Por meio da presença da Igreja Católica, e neste caso especial pela edificação da catedral e criação da diocese de Mariana, pode-se levar adiante a evangelização de regiões antes desconhecidas ou pouco habitadas. Destarte, os 300 anos significam o grande desejo de perenemente, enquanto Igreja, sermos anunciadores de Cristo e das verdades do Evangelho, que continuam levando a força da Palavra de Deus aos corações desejosos do Caminho, da Verdade e da Vida, que é Jesus Cristo.